"Ratis mortis, urubis pertis" , Safravus

 

Cataplum


Uma voz a mais, a menos.


Na hora de procurar a bio:
Ram Rajagopal


Ler e Ouvir

terça-feira, junho 28, 2005

 
MUDEI DE ENDEREÇO!

Apontem seu mouse agora para: http://cataplum.estertores.com

Nada mais de problemas de formatação a la blogger... Para quem não conheceu, os Estertores da Razão foram um dos mais legais grupos de discussão que já existiram na língua de Camões. Uma sociedade secreta, que uniu grandes cérebros do Brasil. Hoje eles secretamente influenciam boa parte da mídia online... hmmmm... Como os estertores RIParam, eles vivem! Aguardem.

PS: EU DETESTO PROBLEMAS DE FORMATAÇÃO! VIVA LA REVOLUCION!

nóia do Ram em terça-feira, junho 28, 2005/

segunda-feira, junho 27, 2005

 
ZOOFINDIS

No domingo, eu, mero mortal, provoquei o caos. Fiquei dando direções aos turistas sobre como chegar aos pontos turísticos de Mumhaten. Imaginem só, "are you from here", "yeah, yeah". Queriam ir para o barquinho da estátua da liberdade, eu conencia irem para o Museu de Arte Moderna. Queriam ir para ver o parque central, eu despachava logo para o lado de mis hermanos.

But, but, o melhor foi ouvir no ônibus para IKEA, quando cedi meu lugar para um sr. professor de Columbia, que ia se sentar mais próximo da sua familia, que "eu não deveria deixar Mumhaten". Eu ocupado em ir para meu novo assento passei direto e não ouvi. O professor foi atrás, disse "excuse-me, did you hear what i said?!". "Hum?", "You shouldn't leave mumhaten!". Primeira vez que ficaram chateados porque não prestei atenção num elogio...
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Viver só da cabeça cansa. Sérius mesmo. Eu gosto de meus momentos head-free, em que tomo um sorvete, ouço qualquer música porcaria no-head, ignoro qualidade, prefiro os busters, e despise com todas as minhas forças os comedores de clássicos. Nestes momentos, minha maior diversão é caçar fast-food pela cidade. É uma boa atividade. Já descobri cada lugar.
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Tem gente que faz um escândalo enorme porque come comida italiana com nome e sobrenome. Nada mais repelente. A comida que vem da Itália prima pela simplicidade. Os camponeses queriam cozinhar simples e gostoso. O segredo é ter legumes frescos, uma boa farinha de trigo, umidade adequada, e é claro, the best extra-virgin oil. Se você come carnes, então cortes frescos e com tiras de gordura, de prefs. Pronto, você vai ter um bom prato de comida italiana. Comida francesa é coisa análoga. To falando do que o francês inventou, e não as cópias recentes de fusion asiático.

A coisa mais complicada é sem dúvida comida indiana, paquistanesa e algumas iguarias chinesas. O problema ali é a profusão de especiarias, e a ordem cuidadosa em que devem ser usadas. Senão ficam parecendo estas pastas amarelas, sem textura ou finesse, que o pessoal fica dizendo "curry disso" "curry of that". Por favor. Quer comer um curry? Pergunte quantas texturas diferentes, cheiros e sabores você encontrou no momento da primeira mordida... Se foi só o que você imagina que é o curry, esqueça. O curry é matrix: é tudo aquilo que não é curry. Simplesmente porque não tem receita. Cada um tem a sua. Bem como o gumbo e o chilly. O chilly sim é uma arte.

E ao contrário dos macacos-da-moda tupiniquins que soltam gritinhos ao experimentar comidinhas da mamma, o chilly é uma arte que merece ser apreciada. O chilly é invenção daqui, com intervenções providenciais dos negros-franceses erradicados por aqui muitos séculos atrás e dos mexicanos que forma enxotados daqui. Um molho de carne, ou legumes, com concentrado westchester sauce, feijões, molho de tomate, e as indefectíveis especiarias. E é claro, como esquecer do molho de pimenta. Não precisa ser apimentado, como por exemplo, com o molho de pimenta Chipotle. Se vocês não sabem, a pimenta não é usada por arder, mas é para dar cheiro camarada. E o chilly tem que ficar horas cozinhando. Cada chilly é um chilly. Até mesmo a mesma receita muda de gosto. A panela onde você cozinha faz diferença até. Ela absorve os cheiros.

O chilly já ta virando menú-degustation em Mumhaten, e daqui a pouco até os bigodinhos estarão lá petiscando. Mas quem for nessa onda, vai perder o melhor do chilly. O melhor do chilly requer esperteza, papo, e paciência. Alguns dos melhores chillies que já experimentei foram em Austin, na casa de um amigo, o do Trudy's é razoável, em Nova Orleans, mas lá tem que caçar, e sem dúvida no Spanish Harlem/Harlem. Claro, na Califa, o veggie-chilly de alguns pontos berklianos é perfeito. Mas fazer um bom chilly é uma arte... Uma boa combinação é o Chilly-Dog, e dizem que o do Yankee's Stadium é muito bom. Nunca experimentei.

Mas arrisque, experimente. Saia da rarefação. Eu fico sempre chateado no Rio, porque o nosso público restauranteur é tão conservador, tão sem sal, que raramente* comida internacional de verdade tem chance de se estabelecer. No Rio, ainda se acha o máximo se comer macarrão com molho de trufa. Tá, linguine al truffati. Nada de errado. Eu sou um grande fã. Mas ficar só nisso... Que pobreza. Coisa de gente ignorante. Não querer experimentar é ignoranço.

*Veja só, eu sei dos nihongos, do schezuan chinês e do semi-tex-mex. Mas é pouco. É irrisório. Nem tem garam masala, carripatá, cardamomo, e tantas outras coisas...
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Amo nossa comidinha, inclusive o indefectível arroz, feijão, batata-frita, salada e uma omelete. Mas morro sem o sambar, sem um currizinho de vez em quando. Por isso to aprendendo de tudo um pouco. Não contem para ninguém, mas quando faço Strognoff, coloco de sopetão, uma pitadinha de garam masala. O pessoal adora, e nem sabe de onde vem o cheirinho... Tá aí, viu só. Tenha sempre seus truques.

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Técnica para impressionar uma garota: Capeletti a la vodka. Flambe o seu molho a la vodka sem vodka, com uma pitada de vodka. Um destes pratos que leva vinte minutos,'tem um nome atraente, e impressiona aqueles não familiares com colocar o pézinho na cozinha. Quem coloca sabe: fazer pasta é das coisas mais divertidas e facéis que existem. O mais difícil é acertar o ponto dos legumes, caso use algum, e da pasta. Mas a Barilla é fácil. Lembrem-se, os legumes, com raríssimas exceções, devem ficar crocantes. Melhor cru e crocante, do que aquela geléia, que normalmente como nos restaurantes daí.

Senão invente... Linguine a la Calabrini : molho pomarolla com presunto e linguine. Ou senão, um que eu já fiz, Fusili Orientale: sobras de fusili com cebolinha torradas em óleo de amendoim e molho shoyiu, Pedacinhos de tofu acompanhando, e cenouras transversais adicionadas a massa bem no fimzinho. Gergelim. Era só o que tinha em casa na ocasião...

nóia do Ram em segunda-feira, junho 27, 2005/

 
DA BLOGUE

Vladas, please perdoe as intuições de forma que o blogger tem de vez em quando. Pois sim, o blogue virou orgânico, atingiu a maioridade, e agora os hormônios estão fazendo ele alinhar o texto do jeito que ele quer. Mas não era disso que ia falar não.

And his aesthetics. Todo mundo já sabe da estética blogue. O ar está ficando um pouco rarefeito. Mas rarefeito é bom. O ar de outras mídias de comunicação atualizadas, como do pai-que-nunca-assumiu-o-filho, o jornal, já está rarefeito há algumas décadas. Porém, rarefeito é ruim quando não cria novidades.

But is it news? Já tem muito blogue bom no Brasil dando notícia. Sim, sim. Acreditem. A melhor cobertura do mensalão, é do vizinho do Roberto Jefferson. Se bem que tudo que ele faz é ler o jornal do dia, e escrever sobre o que leu, nos lembrando que just yesterday he was smoking a cigar com uma daquelas meninas que frequentam o mensalão.

Então cadê o porto? The blog-stetics tupiniquim é uma espécie de linguagem que se estabeleceu na zonosfera. Frases curtas. Sarcasmo. E abusos de conhecimento. Ah, but? Depois de um tempo enche. De que adianta saber de mais um sabido, like mike. Like me. Talvez eu nunca fui destes que apreciou a maquiagem das modelos da Victoria's Secret.

Para ser bem honesto, sempre apreciei a cor do cabelo, os olhos, os movimentos. O jeito de andar. Mas maquiagem, né não. Isso é minha idiossincrasia. Mas aonde você quer chegar? Acho que a lugar algum.

E talvez este seja o ponto. Blogue algum quer chegar a lugar algum. Depois de um tempo eu quero ir para algum lugar. Não seria uma boa? Acho melhor voltar aos meus programas de computador. Enquanto isso, be like mike.

nóia do Ram em segunda-feira, junho 27, 2005/

 
MAMUTES SE MOVIMENTAM

Numa vitória parcial, a indústria de entretenimento ganhou o direito de processar empresas que disponibilizam tecnologias de file-sharing pelo conteúdo que suas redes carregam. Segundo, o que ficou decidido, dependendo de como a empresa marketeia o seu serviço, ela é legalmente reponsável pelo conteúdo.

Infelizmente, esta vitória é o primeiro passo para a regulação completa de novos canais de distribuição de informação. Cedo ou tarde, teremos novas batalhas judiciais envolvendo desde citar materiais registrados com copyright em blogues até colocar fotos encontradas na net num website.

Toda tecnologia de divisão de informação gerou enormes economias para esta indústria de entrenimento, no entanto, como na época do VHS, quando tentaram barrar também aquela tecnologia, agora as mega-corporações se assustaram com o que viram como o surgimento de novos canais de distribuição.

O temor maior não é a pirataria, apesar deste ser o bode expiatório da vez. A tecnologia de fitas está aí ha anos, assim como os cds piratas. O medo maior é perder o monopólio dos canais de distribuição, que hoje se concentram em mega-websites como da Amazon, e lojas offline. A tendência é que os serviços de file-sharing estavam se tornando novos canais. Um canal se estabelece provendo conteúdo popular, e aos poucos toma conta desta cultura.

Infelizmente, o capital financeiro das mega-corporações é muito grande, e fica difícil você concorrer diretamente. Mas vamos ver aonde isso tudo vai dar...

PS: Este post foi escrito de sopetao.

nóia do Ram em segunda-feira, junho 27, 2005/

 
NÍVEIS DE DIFERENÇA

Semana passada assisti a um debate político na "Chamber of Commons" inglesa. Esqueci o nome do evento, mas é basicamente onde o primeiro ministro, agora reeleito, tem que defender suas propostas em uma sessão contínua de debate. Os líderes dos outros partidos, e representantes eleitos podem perguntar ou rebater as propostas do primeiro ministro, e ele tem que re-rebater (isto é, defender), e defender as posições que propõe para seu próprio partido.

É um evento magnífico. Pela primeira vez pude ver uma espécie de beleza na política, que a qualifica ao mesmo patamar de uma ciência, de arte. A câmera é em formato oval, com todos os representantes eleitos se sentando ao redor de um espaço deixado no meio. No meio, o primeiro ministro e o líder da oposição tem uma bancadinha. Todos estão sentados, mas quando irão tomar a palavra tem que ficar de pé. Caso sejam os líderes, eles se aproximam rapidamente da bancadinha, e desatam a falar.

O debate acontece em vaivém. Os movimentos para a bancadinha são rápidos, e os dois líderes tinham sua maneira própria de se levantar rapidamente, e se aproximar da bancadinha, e se apoiar nela. Era quase como um balé. Não estou brincando. Os movimentos eram precisos. Mas o melhor era o debate.

Todos falam numa velocidade incrível tentando surfar a onda de energia manifestada pelos representantes dependendo do que foi dito. Os comentários, perguntas, e respostas são recheados de finas ironias, e são quase sempre sucintas. Algumas respostas qualificam como enrolação, mas até estas são sucintas. O esforço e o foco dos partcipantes e intenso. Um exemplo de troca:

Líder dos conservadores: "He said he was against reforms in university funding and became in favor of it! He was against toppling Saddam and became in favor of it! He was in favor of the UE constitution and became against it! What are you in favor or against? Of both!"

[Gritos de Aie! Aie! Aie! com muitas risadas]

Resposta de Tony Blair: "I am in favor of deciding the best for the country! I still believe that my choices reflect what I sincerely thought was the best for the country at that moment. [Um trecho sobre a nova política para EU]. The leader speaks of being in favor and against, but as I remember, he did side with us in every step of the way. So are you in favor or against?! "

[Gritos de Oh, ohhh, ohh, Aie! Aie! Aie! e gargalhadas]

O incrível é que o questionamento ia a níveis de detalhes incríveis. Um representante perguntou da política do governo sobre a proibição de asbestos. Outro sobre a guerra. Outro sobre o investimento em reforma de uma seçao de uma cidade. Se o primeiro ministro não é minimamente preparado, certamente faz um papelão. Mas raramente as trocas são brandas. São quase sempre feitas com palavras afiadíssimas, e com bons argumentos e momentos do mais fino humor inglês. Um prazer assistir.

Será que um dia teremos algo assim no Brasil? Sem preconceito, o Lula jamais sobreviveria uma sessão destas. Nem o Bush. Mas o Brasil, ao contrário dos EUA e Inglaterra, tem políticos de uma qualidade muito ruim. Nem venham comparar o calibre intelectual de um Donald Rumsfeld ou de um Dick Cheney com os nossos equivalentes nacionais. A maioria tem uma educação duvidosa, e pouca técnica política. Pior, parecem não aprender nunca. Depois querem dizer que o Brasil está pronto para ser o "líder" do terceiro mundo. Meus amigos sempre apontam um Celso Amorim ou até um Suplicy como exemplo. Infelizmente, é muito pouco para se levar um país a sério no cenário internacional. Deus é que faz o Brasil ser levado a sério, por toda sua abundância de matérias primas, objeto de desejo internacional. Jamais a nossa qualificação política.

Mas para não dizer que o Brasil não tem ou teve políticos de expressão mundial, D. Pedro II tem uma estátua ergida em sua homenagem em Washington.

nóia do Ram em segunda-feira, junho 27, 2005/

 
AD DEATH TO THE TEMPLATE!

Blogger, blogger. Agora está testando os limites da minha paciência... Acho que vou arrumar um soçaite pra mim.

nóia do Ram em segunda-feira, junho 27, 2005/

 
SEM SAL

Depois de um fim de semana fazendo compras para casa, e carregando estas compras por muitas quadras, é muito irritante ver ainda as mesmas velhas discussões no jornal... A bem da verdade, o PT é o unico partido que ainda acredita que não está envolvido no mensalão. Assim como o governador Lula, que é o homem mais ético da terra. Coisa que qualifica ele para fazer parte do circo.

No Brasil tudo é óbvio. É óbvio que o jornal iria colocar na capa o pedido de união civil para casamentos entre gays. É óbvio que a estória da CPI iria estar lá, só que como sempre apontando dedos aos poucos acusados. Jamais questionando a filosofia política que leva a estes níveis de corrupção (tem até nome, populismo esquerdista). É óbvio que iria aparecer que o Flamengo está mais uma vez na Zona do Rebaixamento. É óbvio que ia ter menção a histérica revanche entre Brasil e Argentina pela Copa das Confederações, algo fundamental no big scheme of things, e é óbvio que iriamos encontrar erros de português e linques no jornal... Ainda bem que os brasileiros são criativos no dia-a-dia, porque segundo o jornal são todos óbvios.

Bom, de qualquer maneira boas aventuras aconteceram no fim de semana. Coisas não tão óbvias. Dessas eu conto quando tiver processado o humor atual.

nóia do Ram em segunda-feira, junho 27, 2005/

domingo, junho 26, 2005

 
UMA BOA CARTA PARA O MARACA...

Leiam esta carta
que achei hilariante. E os comentários me levaram a aqui. Das coisas mais hilariantes também.

nóia do Ram em domingo, junho 26, 2005/

sábado, junho 25, 2005

 
ANALOGIAS FUTEBOLÍSTICAS...
"The stubborn man achieves; the blind man deceives" - Metchik Patras.

Tem muita gente achando que o problema são os jogadores, não o esquema tático. Já se mudaram jogadores e técnico muitas vezes, mas o time continua sem conquistas, perdendo. Será que não é hora de questionar o esquema tático? Quantas vezes mais o tal esquema tem que se mostrar falho e fraco, para abandona-lo de uma vez?

Ao menos no futebol, estamos mais envolvidos com os resultados, do que com o esquema, e por isso, em geral, se identificamos um problema com este último, rapidamente exigimos mudanças. Já na vida...

nóia do Ram em sábado, junho 25, 2005/

sexta-feira, junho 24, 2005

 

UMA BOA IDÉIA

Uma boa idéia não é tão simples, que é uma obviedade, uma banalidade, nem é tão complexa, que é difícil de entender, de se apreciar. Ter boas idéias é uma arte que depende tanto do acaso, quanto de continuamente tentar... Mas com certeza, a densidade de "boas" idéias parece aumentar ou com a quantidade de capital político ou com o teor etílico.

Acho que boas idéias não são necessárias para se viver. Mas que usar as engrenagens neuronais traz saúde é inegável. Vejam só, quando tenho uma boa idéia para algo no trabalho, costumo comemorar dando uma volta no parque e tomando sorvete. Quer coisa melhor? Tá tirando beijos, abraços, e umas outras atividades que não mencionamos por aqui, mas que por via das dúvidas, todas estas facilmente se tornam má idéias, como testifica o Ronaldinho.



nóia do Ram em sexta-feira, junho 24, 2005/

 

RAUL NOSTRADAMUS

Veja - Diante desses três fracassos, o que restou das suas convicções?

Gabeira - A decisão de me apoiar em alguns princípios de atuação: a democracia - como uma visão estratégica, e não mais como os comunistas a viam, uma tática para chegar ao poder -, a defesa dos direitos humanos, da consciência ecológica e, finalmente, da justiça social. E caminhando por aí eu acho que posso fazer alguma coisa. Não é mais uma grande revolução, com o esplendor daqueles tempos, mas é um pouco parecido com aquela história do Salinger, de O Apanhador no Campo de Centeio: quando eu era jovem, eu queria morrer pela revolução. Agora, quero viver para transformar um pouco as coisas. Sem grandiosidade, sem melodrama.
Com pequenas ações, apenas.

Eu não gosto muito de políticos polêmicos e extremistas, mas tenho um desgosto ainda maior por políticos que tentam passar uma imagem de “cara legal”. Em geral, esta imagem está tipicamente acompanhada de uma série de preocupações e mensagens de um lugar comum emocional, que são verdades inquestionáveis. Por exemplo, devemos “reduzir a pobreza na sociedade”. Sem nenhum conflito, sem avaliar o contexto desta idéia, sem apresentar as possibilidades e o que é factível, o que é necessário, não há como se contestar o argumento. Ele apela para o valor humano mais básico, que é a auto-preservação, gostar de si mesmo. Como plataforma política é uma banalidade. Existem muitos exemplos assim. Acabar com a fome, proteger a natureza, promover a liberdade e democracia, trazer a igualdade, e bla, bla, bla. Quando estas “propostas” são usadas para angariar votos até se entende. Quando pessoas se convencem de que esta é sua “ideologia” política, então há algo de grave acontecendo...

Ainda mais quando raramente sua ideologia política apela para conhecimento, reflexão e experiência. Quantas pessoas que afirmam banalidades ideológicas se preocuparam em explorar a fundo a questão, ao ponto de ter tido tal experiência, de se relacionar com pessoas assim. Na maior parte das vezes, uma espécie de arrogância intelectual toma conta do animal político, daqueles que pensam ao menos, ao imaginar sistemas de vida no lugar de uma sociedade orgânica. A experiência diz que administrar, tal qual viver, é sempre uma questão de escolhas num ambiente restrito. Entre as opções disponíveis qual é aquela que trará um maior benefício num prazo pré-determinado. A segunda questão de administração pública, é a escolha do que se conflagra como um benefício. Um benefício é uma espécie de score que mede o quanto se perde em uma coisa para se ganhar em outra. Um administrador escolhe o seu score de acordo com o mercado, e com o que é bom para uma organização no longo prazo. Infelizmente, nenhum destes passos é seguido seriamente por políticos tupiniquins.

Estou começando a aceitar que falta cultura e educação no Brasil, faltam pessoas interessadas em conhecimento, e faltam ainda mais pessoas inteligentes que não se entreguem ao banderismo fácil, a complacência com os mecanismos de pensamento existentes. Que não se tornem pregadores de obviedades, e nem vivam da pena e da dó do próximo. Que sociedade precisa de pessoas que sentem pena dos outros? Precisamos de de pessoas que sintam pena de si mesmos, por não explorarem todo seu potencial, que sintam dor pela ignorância, afinal a ignorância impede o desenvolvimento de cada um, mas além de tudo precisamos de pessoas inteligentes o suficiente para saber os limites de seu conhecimento, sua experiência. A partir deste reconhecimento, você pode criar idéias efetivas, de acordo com o que você sabe, e não para satisfazer lugares comuns emocionais, ou criar imagens que agradem ao seu ego. Afinal, quem quer ser um “cara legal”, está mais preocupado com a imagem do que com a sociedade.

Uma buquê ou a lâmina afiada da realidade e da verdade? Precisamos escolher sob que princípios iremos construir nossas vidas. Aparências ou experiências?

PS: Umas semanas atrás, uns estagiários da IBM vieram com uma discussão sobre marxismo. Diziam que se trata de uma boa idéia, mas que não pode ser implementada. Um bom ideal. Questionei o tal ideal, ou mesmo a idéia, e o fiz com a intenção de estudar a reação das pessoas, pois para mim não faz muita diferença marxismo, isso ismo ou outro ismo, vive-se aonde vivemos. A reação foi a mais simples e esperada, sete pessoas dizendo que “se preocupar com a sociedade” é importante, que a “igualdade socio-economica na sociedade” é fundamental. Que “qualquer pessoa preocupada com pobreza e sofrimento” acredita que se trata de um bom ideal. Eu disse que qualquer pessoa preocupada com pobreza e sofrimento, trata de curar a pobreza de seu próprio espírito, e encontrar uma solução para o seu sofrimento, pois quem somos nós para arrogantemente determinar quem sofre e quem não sofre? Obviamente fui enxotado verbalmente. Duas semanas depois, quatro dos indivíduos compraram 4 celulares novos, que custam cerca de 300 dólares. Perguntei porque? Simplesmente porque queriam, deu vontade. Nestas horas vemos quem acredita no que pregam como “bom ideal”.

Infelizmente, estou notando cada vez mais, aumenta o número de pessoas que sacrificaram o espírito, que deixaram de acreditar na grandeza da vida, nas infinitas possibilidades. Passam a viver monotonamente, comprando celulares e pregando “bons ideais”. Mas jamais lhes passaria pela cabeça viver o bom ideal, descobrir aquilo que lhes é sua essência. E como já disse muitas vezes antes, sequer admitir que idéias diferentes são possíveis, que devemos pensar realisticamente, e que existem limites para o saber de cada um. Tudo baseado na experiência e na reflexão. Não imaginem que eu faço tudo isso, o que estou pregando isso porque me imagino “melhor” que os outros. Mas eu sei o meu lugar, e sei os limites do que sei. Dentro disso, até tentando aumentar este espaço, tento ter novas experiências. Erro muito, mas ao menos admito que erro, e aceito que posso estar errado... Quantos políticos “caras legais” pensam assim?

PS2: O título do post está relacionado com uma previsão do Raul Seixas, o Nostradamus tupiniquim. Vejam só se ele não disse tudo sobre a índole política prevalente no nosso país.



nóia do Ram em sexta-feira, junho 24, 2005/

quinta-feira, junho 23, 2005

 
SERVE THE SERVANTS

A justiça não pode servir como instrumento de satisfação da dor das pessoas. No recente caso do desaparecimento de uma americana, Natalee Holloway, em Aruba, uma série de pressões da mídia e da familia da desaparecida, podem ter levado a prisão de um jovem de 17 anos na cadeia. Em Aruba. Não há indícios de onde a garota foi parar, e a última pessoa a ter encontrado ela foram 3 rapazes, dois do suriname e o jovem holandes. A razão para ele estar na prisão não está clara, pois ninguém sabe nem mesmo se houve um crime. Mas a pressão da mídia americana sobre a justiça de Aruba é enorme, e a simpatia gerada pela garota, bonita e loira, levou a reportagens onde ela aparece como ótima aluna, e o tal rapaz, realmente um bravateiro, como um monstro com problemas psicológicos. Quer dizer, as entrevistas que foram mostradas na tevê aqui.

A questão não é se o garoto é culpado ou não, mas sim como a pressão da mídia, e dos pais que já chama o rapaz de assassino, mesmo sem indícios de um assassinato, ou do envolvimento do tal. A dor de um parente pode levar a isso. O que não pode é a mídia criar comoção pública, mostrando um suspeito como culpado. Ainda mais colocando pressão sob o sistema policial e de justiça de um lugar pequeno como Aruba. Um exemplo típico, é uma reportagem que mostra a garota como um anjo de aluna, e o rapaz como bêbado em Aruba. Obviamente, se a garota foi comemorar sua graduação da High School em Aruba, em parte deve ter sido porque pode se beber lá com a idade de 18 anos. E algumas testemunhas inclusive dizem que viram ela e suas amigas completamente bêbadas em bares e boates, dançando no pódio e tudo. Omitir coisas assim certamente cria uma "opinião pública".

O que fazer para mudar isso? Não sei mesmo. Talvez, a Fox e a CBS possam ser processadas pelo pai do rapaz por dengrir a imagem do filho. Quanto ao caso, tomara que se resolva e tudo esteja bem com a garota. Eu vi uma pessoa entrevistada na tevê dizendo que "o que querem que o pai faça, procure pelo corpo da filha em latas de lixo? Este rapaz tem que admitir a culpa e ir para prisão". Isso sim, é opinião pública... Mas certamente não é veredito da justiça. Veritas!

nóia do Ram em quinta-feira, junho 23, 2005/

terça-feira, junho 21, 2005

 
CRIATIVIDADE DOS POLVOS

Agora lá em Brasília, o mestre de cerimônias manda avisar que:

"Antes eles falavam que tinha ministério demais, secretarias demais, depois que quebraram todas as barreiras resolveram quebrar a questão ética e tudo isso por conta de um cidadão de terceiro escalão dos Correios (o ex-chefe do Departamento de Contratação de Material dos Correios Maurício Marinho) que pegou R$ 3 mil, mas ninguém tem mais autoridade moral e ética do que eu para fazer isso, para transformar a luta contra a corrupção não em bandeira, mas em prática cotidiana".

Sim senhor, prática cotidiana. Seria parecido com a prática do prefeito assassinado de Campinas, do tesoureiro do partidão, do tesoureiro de campanha assassinado, dos traficantes que doam para campanhas de certos partidos? Nossa, quando o polvo fala assim até assusta. Mas cuidado, as vezes pode soar incoerente. Afinal, o partidão não é o partido das bandeiras? Sei lá... A única prática cotidiana que eu conheço e ficar viajando para país, enrolando em algodão egípcio, curtindo a banheira nos céus, enquanto a escumalha ou se faz de boba, ou é completamente ignorante. Ou ambos.

nóia do Ram em terça-feira, junho 21, 2005/

segunda-feira, junho 20, 2005

 
SUGESTÕES

Outro dia perguntei a um colega de trabalho alemão para me indicar alguns autores de ficção de seu país, que não fossem os grandes que eu já conheço. Ele me deu a seguinte lista, e sugestão de livros:

Friedrich Schiller - William Tell e "Die Glocke" (?)
Theodor Fontane - Effi Briest
Berthold Brecht - "Mother courage and her children" e "Das Glasperlerspiel"
Max Frisch - Homo Faber
Thomas Mann - Buddenbooks and his family

Além de não ter tido tempo de procurar a tradução do título de Brecht e de Schiller, gostaria de saber se alguém já leu Frisch e Fontane. Valem a pena? Os outros eu conheço algumas obras, mas não estas.

nóia do Ram em segunda-feira, junho 20, 2005/

 

MEDITAÇÃO DO MEU QUERER
Me perdoem o egoísmo, mas se querer é poder, tenho que saber o que quero, não? Dedicado a uma amiga que anda passando por poucas e boas, mas que sabe o que quer.

Quero que minha vida seja como um xote. Alegre, suave, em padrões familiares, com algumas pequenas surpresas. Quero que minha vida seja como dançar em um forró pé-de-serra. Intenso, sensual, com suor e lágrimas, e rodando, girando ao redor do mundo, vivendo e sendo vivido. Quero que todas coisas tenham um significado como cada nota em uma música. Como cada tom dissonante em um solo de Ornette Coleman. Quero que cada melodia seja triste e alegre como minha vida. Viver é ser atropelado pelo desconhecido. É assim que quero ser, é assim que sou. Não saber o amanhã me desespera. Mas se soubesse, me entediaria. Porque sei que sou previsível, mas ao mesmo tempo sinto que o inesperado, o incalculável, a porrada síncrona me espera na esquina, a espreita, a todo momento. E se essa porrada me faz cair de costas, também me acorda. Quero viver sempre acordado. Não quero ser entorpecido pelos eventos, pelo conhecimento. Se viver é saber, então não vivo. Prefiro não viver. Não quero saber muito mais do que sei. Whenever I go down there, I feel the pain of a dagger through my flesh. Ao mesmo tempo, sou grato por tudo que recebi na minha vida. Conhecer as pessoas mais incríveis, os lugares mais lindos, ser recebido com tanto amor e carinho por um universo para o qual tão pouco fiz. E se existe uma grande ansiedade de minha parte é querer fazer muito mais por este lugar, o mundo, que me quer tanto. Que tanto me traz surpresas, alegrias e tristezas, e ao mesmo tempo êxtase. De todas minhas dúvidas, o saldo de tudo que aprendi, do pouco que aprendi, é deixar o passado passar, deixar o futuro chegar, e tentar, só tentar, experimentar mais momentos felizes e tristes, mais momentos de aprender, desaprender, de viver. Quero poder errar tantas vezes quantas me permitirem. Prefiro ser sórdido, porém sincero. Sei que sei pouco, aprendo devagar, sou ansioso, e por vezes infantil, por vezes crianças, mas sempre alegre. Nunca encontrei a perfeição em vida, porque a vida não me parece perfeita. Perfeição é doença. Se satisfazer com o imperfeito é condescendência. Em algum lugar, algum caminho do meio do caminho, de mãos dadas com poetas e cantores, abraçados a santos e guerreiros, se encontra o viver, viver bem vivido. A verdade é que todos vivem a vida bem vivida. Um grande teatro, que você pode assistir, que você partcipa mas não assiste seu próprio papel. Uma hora as cortinas se baixam, chega um ponto final, e acredito eu, lhe ofereçem outros papéis, novos diálogos e começa novamente. Quero viver minha vida como um grande drama. Com muitos momentos cômicos, interrompidos por momentos cheios de amor. Se sempre imaginei deixar muitas marcas pelo mundo, deixei algumas. Se sempre imaginei que ser relevante era essencial, estou descobri que praticamente tudo é irrelevante, exceto nossa própria felicidade, alegria e prazer. Sonhei ontem com o prazer como sendo descer os degraus do meu prédio, atravessar a rua e seguir caminhando pela praça, numa tarde com um sol morno. Do outro lado da praça, com uma mesa de metal , um pouco enferrujada bem em frente, estava uma padaria. Na mesa sentado com amigos e amores, comi um pedaço de pizza e tomei um café com leite. Estavam lá naquela padaria, ao mesmo tempo, nem todos na mesma mesa que eu, familiares, amigos, os desconhecidos que eu gostaria de conhecer, o dono vascaíno, minha irmã, os amores que tive e virei a ter. Do lado de fora, o sol morno que derretia a manteiga num potinho na mesa, deixando uma fragrância de vida no ar. Manteiga com água de rosas. O barulhinho das folhas da amendoeira roçando ao vento. Viver é tão gostoso. Parece que continua para sempre. Sei que não é verdade, e sei também que quando um fim chega, o ponto final, um evento inesperado, não há muito a se fazer. O melhor é tentar fazer antes o que está ao alcançe de cada um. Quero ter a coragem para fazer tudo que está ao meu alcançe. De todas estas coisas, quero sorrir com os olhos, cheirar com a boca, e sentir com o corpo cada momento da minha vida. E perdão a quem ordena as coisas no universo, a quem decide tudo, se meu querer é meio pequeno, meio vazio. Quando se tenta viver grande, se descobre o pequeno. Quando se tenta viver pequeno, se descobre o grande. No meio do caminho, de algum caminho, estou lá. Todos estamos.



nóia do Ram em segunda-feira, junho 20, 2005/

domingo, junho 19, 2005

 
FLAMENGO TO THE LEFT

O Flamengo por estes dias é um time que vive na ponta da tabela, ponta de baixo, mas ainda pensa que tem a estrela de uns 13 anos atrás quando ganhou seu último campeonato brasileiro. É um daqueles times que vive do passado, e sempre que se denuncia as políticas horríveis dos últimos anos, como péssimas contratações e escolhas muito equivocadas para a direção, se defende com unhas e dentes, apresentando as evidências mais exdrúxulas. Um exemplo é sempre dizer com o dedo em riste que Adriano e Íbson, entre muitos outros, estão arrebentando no futebol europeu, e isso é merito da produção de jovens do Fla. Mas estes jogadores, não trouxeram benefício algum para o clube. Mesmo os ganhos financeiros foram bem pequenos comparados ao que valem hoje. Em geral, culpa da diretoria que vive do passado, de um amadorismo que não tem mais lugar no futebol profissional.

Pois me surpreende que os esquerdistas latino-americanos se comportem como o Flamengo. Me surpreende não, já era de se esperar. Quando aparece alguém denunciando que Allende era anti-semita, racista, defensor da eutanásia e a favor de esterlizações forçadas, uma horde de dirigentes e diretores já aparecem no noticiário para fazer sua defesa. O pobre Allende, vítima do golpe da ditadura chilena, jamais poderia ser qualquer uma destas coisas. Afinal, ele é de esquerda. E desde quando um esquerdinha, preocupado com as criancinhas, e que alimenta os animaizinhos do quintal, e tem dó e piedade do ser humano, pode ser algo menos que Jesus Cristo? Assim como o Flamengo é o time dos messias, a esquerda é o partido dos homens santos... Enquanto isso, me chamam de nazista, homófobo e toda sorte de coisas, logo eu, que sou flamenguista.

nóia do Ram em domingo, junho 19, 2005/

sábado, junho 18, 2005

 
SÓ DE ONDA

Eu sempre achei que era onda do Alexandre Soares Silva ficar dizendo para todos que lia Chesterton. Semana passada passei pela livraria aqui perto de casa, e vi um exemplar de "The Man who was Thursday" pendurado na prateleira, e resolvi comprar para averiguar se era um livro possível de ser lido.

Não só é possível, como é um livro ótimo. Bem escrito, cheio de humor, na melhor tradição dos bons escritores ingleses. Raramente se encontram por aí livros que misturam o fantástico, como poetas policiais, com sutis críticas políticas, um humor fino do melhor e um thriller divertido. Me lembrou até de H. H. Munroe, ou Saki, para mim um dos melhores contistas de língua inglesa. Estou quase no fimzinho do livro, e se eu fosse professor de história ou geografia de um colégio sério faria meus alunos lerem. Além de ser uma leitura agradável, mostra o que os vários tipos de paranóias e militantismos fazem com as pessoas...

Mas cuidado, não comece a ler este livro em público. As primeiras vinte páginas estão entre as mais cômicas que já li num livro, e podem fazer você rir descontroladamente, coisa que Chesterton condenaria, afinal não é coisa de gentleman. Quanto ao Alexandre, agora já sei um pouco de onde vem seu jeito de escrever... Não é demérito algum ter uma referência. Na verdade, acho que todas as pessoas que escrevem muito bem acabam tendo. Uma referência sólida diga-se de passagem.

Já as minhas são as várias péssimas redações que escrevi na escola, e o posterior choque de descobrir que na universidade haviam pessoas que escreviam pior ainda... Depois ainda dizem que "escola particular é de elite". Se for, seria de uma "elite" que seria apropriadamente e sutilmente escrachada por Chesterton.

PS: Assim que terminar de ler o livro, estou disposto a envia-lo pelo correio para o primeiro cidadão que me enviar um e-mail com seu endereço. Em troca, gostaria que o cidadão me enviasse uma cópia do livro do Alexandre ou senão passasse a se chamar "Thursday" pelo resto da vida. Com ou sem troca, estou disposto a postar esta jóia.

nóia do Ram em sábado, junho 18, 2005/

 
COMUNISMO ASSUSTA MAIS

Me digam se não é verdade, comunismo assusta bem mais que fundamentalismo. Ao menos neste último, existe um orgão ou entidade superior ao homem, o que permite, bem ou mal, talvez num golpe de sorte, que Deus apareça e instrua os sujeitos mal comportados. No primeiro, mesmo se Deus aparecesse, bateriam a cabeça na parede, dizendo que Deus não existe, e se existisse só poderia ser igual aos outros, exceto os membros do partidão.

Na verdade estou cada vez mais assustado com uma parte das pessoas de esquerda. Os fundamentalistas. Negam tudo. Querem tomar o que outros tem, sob a égide da injustiça, e se afirmam como deuses na terra, onde parecem saber o que é melhor para toda eternidade. Eu descobri, por experiência própria, que o melhor é interfir pouco, e dar o máximo de liberdade possível. E sim, aceitar que o mundo será sempre cheio de diferenças. Mas, talvez construir alguma coisa para oferecer as pessoas com mais vontade, caminhos para melhorarem.

nóia do Ram em sábado, junho 18, 2005/

 
OPÇÕES...

Porque será que boa parte dos brasilianistas que estão nos EUA, e são entrevistados pelo Globo, são petistas? Ou o Globo é previsível, ou estes acadêmicos preferm não ter diversidade ideológica... Não estou aqui nem entrando no mérito de uma discussão entre esquerda e direita, mas estou sim contestando o petismo descabido. Ou será que estes acadêmicos gostam mesmo da turma da cocaína? Uma coisa é não acreditar em coisa alguma, além de que carne é igual a carne. Mais uma coisa ainda é viver de enfadonhos falsos moralismo do século passado, especialmente aqueles apresentados por guerrilheiros e ditadores. Outra ainda é vestusamente apoiar este ou aquele partido quando se estuda um país. Se este é o caso, ao menos tem que haver acadêmicos que apoiem outros partidos ou nenhum partido, senão o trabalho acadêmico se torna deficitário...

Uma coisa é certa, agora que o Lula explodiu o bode, estes acadêmicos ainda defendem o nefasto PT, partido do moralismo vazio, e acusam Lula de perder um pouco, veja bem, um pouco, o controle do governo. Quer dizer que precisa fazer mais para convencerem que o PT é algo que presta. Será que não perceberam ainda que no Brasil ainda está para aparecer um partido que presta? Mas o pior é viver da demagogia esquerdista, que foi a única proposta concreta do PT. Se eu pudesse criaria um cercadinho, numa destas ilhotas no oceano Índico, colocaria todos os acadêmicos de esquerda para viver juntinhos por lá, e daria suas casas e empregos que tanto deploram aos indivíduos pobres destes lugares. Aposto que aproveitariam melhor, já que para estes últimos, um bom salário e aproveitar a vida são mais importantes do que as ideologias totalitárias dos outros.

nóia do Ram em sábado, junho 18, 2005/

sexta-feira, junho 17, 2005

 
UMA VOZ...

Leiam aqui uma opinião diferente, e de um ex-senador Republicano. Isso sim é diversidade ideológica, coisa que precisamos muito no Brasil.

nóia do Ram em sexta-feira, junho 17, 2005/

 
PORQUE ACABO ESCREVENDO MAIS DE POLÍTICA DO QUE QUERO

Porque tem pouca gente aqui que fica falando disso, acho eu. Pouca gente para contar uma piadinha no almoço sobre o Lula, ou para dizer "como a situação está péssima". Por isso, acabo escrevendo sobre política... Se estivesse no Brasil, jamais escreveria sobre política. Afinal, ao vivo e a cores, ela enche o saco.

Ah sim, meu orientador alemão, ex-Alemanha Oriental, que por via das dúvidas odeia comunismo, me disse que somente chatos e espertalhões se tornam políticos. Pessoas que devem ter uma vida bem chatinha... Tendo a concordar com ele. Mas vejam só, nem levem estas opiniões a sério, pois vem de pessoas que tem como passatempo resolver probleminhas, discutir programas de computador e idéias científicas, e falar das belezas naturais das mulheres...

Uma última coisa irônica, comi pizza ontem num lugar que se chama President's Slice. Que coisa ...

nóia do Ram em sexta-feira, junho 17, 2005/

 
JOSÉ, FERNANDO E LUÍS

O destino do Brasil é ser liderado por Josés, Fernandos e Luises. Nada contra estes nomes. Mas já chega né. Já tivemos o suficiente. Porque não um nome longo e imponente? Um novo Teodoro. Ou porque não um legítimo representante das massas, como Josiclair ou Murisclácio? Ou ainda, um representante da verdadeira cultura do poder brasileiro, um Cabeção ou Doutô Canguebom? Não, persistimos na besteira de ficar elegendo gente com nome parecida. Ao menos nos outros países há uma saudável alternância de nomes no poder.

Como eu gostaria que um Loris ou até uma Cristiana liderassem o país. Até um Takajima ou Robisvaldo. Seria mais autêntico, do que está ditadura dos Josés, Fernados e Luises. Não fosse pelo Itamar, não teríamos tido trégua. É por isso que considero Itamar Franco, o melhor presidente brasileiro de todos os tempos. Primeiro ele é um legítimo representante do povo brasileiro, pois num carnaval demonstrou que faz o que todo brasileiro faria ao se deparar com a tarântula da vizinha... Depois, com aquele cabelos aos ventos não fez muita coisa. O que é um mérito. Ao menos naquela época, o ministro da economia era um sociologo. Se bem que hoje é um médico... Mas o melhor mesmo do Itamar era o nome, combustível para inúmeros trocadilhos, e também motivo para fazer chacota de estrangeiro que não consegue pronunciar este nome.

Se eu fosse presidente do Brasil, ia trabalhar com uniforme de super-herói, e me chamar "Aquele Que Não Se Pronuncia o Nome". Quem não conseguisse falar o nome ou soubesse escreve-lo corretamente, não teria audiência comigo. Imaginem só, acho que nem teria necessidade de trabalhar muito... Um grande projeto seria a bomba atômica brasileira: um Hércules carregado de Sheilas, É o Tchans, Cicarellis, Biais, e outros heróis populares que faria pousos forçados nos países que desejamos atacar... Eu duvido que o presidente born-again dos EUA ia resistir a uma dança da Sheila... Os efeitos desta devastadora bomba levam mais de 500 anos para passar. Ah, que doce ilusão. Minha secretária pessoal obviamente seria Luana Piovani. E a ministra da economia, Ana Paula Arósio. Um supertime de modelos da Elite fazendo a frente de trabalho do meu governo, agradando a direita e a esquerda. Poxa. Que coisa boa. No fim de semana, os trabalhadores de Brasília poderiam se divertir indo ao circo, vendo performances de animais aquáticos, homens pré-históricos que pintavam a cara e se vestiam de vermelho, e o melhor macacos, papagaios e palhaços que imaginam ser gente importante.

nóia do Ram em sexta-feira, junho 17, 2005/

 
FOGO MEU, FOGO SEU

Já que o FHC falou em pegar fogo em tudo, resolvi ir ao cinema e acabei vendo um bom filme, Batman Returns. O melhor da série de filmes, Batman Returns não tem um vilão tão bom quanto o Pinguim, mas em compensação tem o melhor Master Wayne de todos episódios de cinema. Fora isso, a trilha sonora e a caracterização da Gotham City ficaram muito boas, aproximando mais o Batman de uma realidade sombria do que de uma fantasia.

Batman se baseia num dilema moral de Bruce Wayne: como o sistema de justiça não funciona, e a cidade é completamente corrupta, será que devo fazer justiça com minhas próprias mãos? O dilema se resolve com a opção de Bruce pelo caminho do meio. Mesmo assim, a necessidade para ser aceito, e o ego do personagem, volta e meia o levam a fazer justiça com as próprias mãos, oferecendo explicações um tanto duvidosas para isso. Mas isto é o melhor do Batman, o cavaleiro das trevas. Talvez bem mais real do que aqueles que acreditam que "ser bonzinho" é ignorar e aceitar corrupção e abusos legais...

Precisamos de um Batman no Brasil. Eu imagino que este Batman seria conhecido não por pular prédios, e voar com a capa preta de morcego, mas sim por sugar o sangue de deputados de Brasília, e por ter a poderosa habilidade de falar português corretamente. Seu arqui-inimigo seria o Polvo, dirigente de uma organização subterrânea, recheada de goons idiotas que acreditam que por ter um ideal da sociedade podem caminhar acima da lei. O principal poder do Polvo é sua lábia rosa, que hipinotiza e convence qualquer um a fazer seus desígnios. O Batman brasileiro poderia ser chamado de Batetrola, o nome sugerindo a única coisa que ainda atrai e assusta os marginais (assim como o morcego faz na série real). E mais, Batetrola, assim como o Batman, seria amado pelos jovens mais jovens e menos contaminados pela lábia rosa, e detestado pelos outros, mesmo sabendo que a Gotham brasileira, Brasília está melhor com ele...

Para fazer a coisa toda melhor, Godzilla poderia ser um senador. Godzilla, ou senador Zilla, denuncia o Polvo, mas quando criam uma CPI ele se revolta e começa a comer todos os deputados. Imaginem só... Se o Spielberg entrasse nessa onda, poderíamos ter o ET chegando em Brasília e assumindo o poder: "Et phone home", e ao mesmo tempo, Godzilla se procriando e criando um Jurassic Park. No fim, os dinossauros, o et, e o Batetrola poderiam se tornar os novos líderes do pais. Eu imagino que os velociraptors dariam bons deputados federais, comendo todo o orçamento. Mandaríamos um Tiranossauro para negociar com a China e com a UE. Outro para comer os traficantes. E vocês querem alguém mais cute que o ET, que com seu vocabulário simples e luzinha no coração, vai conquistar a população brasileira, e vai dialogar com os vários "líderes" da América Latina. Até para a Casa Branca ele pode ligar, "ET phones home".

Ai... O mundo da fantasia é tão melhor que o real. Vamos colocar fogo sim, Sr. FHC.

nóia do Ram em sexta-feira, junho 17, 2005/

quinta-feira, junho 16, 2005

 
EXEMPLO

Exemplo tirado do manual de redação da Folha de São Paulo, edição de 1996:

7) Apostos - Bush, presidente dos EUA, morreu ou Bush, o presidente dos EUA,morreu. A primeira forma é considerada mais correta.


nóia do Ram em quinta-feira, junho 16, 2005/

terça-feira, junho 14, 2005

 
E QUEM ERA CONTRA...

Os esquerdistas que são contra os grandes conglomerados americanos, podem agora passar a apoia-los. Como cães de guarda do governo chinês, as empresas Google, Yahoo e Microsoft aceitaram a patética exigência de proibir as palavras manifestação, democracia, o termo "direitos humanos", e outras cositas mais em blogues e home pages. Quer dizer que se seu computador tiver um "ip" chinês, os softwares de blogues e para publicação de web pages checam se você usou uma destas palavras.

Depois ainda aparecem patetas, incluindo gente de doutorado que eu conheço, que dizem que na "teoria o comunismo é uma ótima idéia". Poxa, essa teoria deve ser muito diferente daquela que se aplica nas CNTP (Condições Normais de Temperatura e Pressão). Parece até comédia de Felini: ouvi isso no almoço, e quando chego no meu escritório, o Fung comenta, sem opinar, esta deplorável manifestação do gobierno chinoca. Será que viveremos um dia num planeta menos hipócrita, e em que as pessoas pensem, reflitam e experimentem antes de defender idéias deprimentes?

PS: Obviamente, no almoço, na IBM (!!), ouvi de estagnários que Marx se preocupava com os pobres russos, e toda aquela balela deprimente. Quando eu perguntei porque é certo imaginar que todos somos iguais, e todos "merecemos ser iguais", me ejeteram da conversa com a resposta babaca de sempre: porque "todos merecem oportunidades iguais" e "por compaixão". Tá certo. Se Jesus ou Buda estivessem por ali, teriam provavelmente ir pegar uma das boas sobremesas da cafeteria, para não gastar seus neurônios tentando explicar porque as pessoas nunca foram, nem nunca serão iguais... E que sim, as pessoas tem que fazer por merecer numa sociedade saudável. Mas vejam só, ganhei um cookie porque provei para os comunistinhas de fachada que o marxismo, filosoficamente, aborda não a questão da igualdade do homem, mas sim a descrença no Espírito, parte do pressuposto que a vida é uma mera construção intelectual, e nada de espiritual há no homem. Nem precisa de muito argumento. Gente ignorante pode ser convencida de qualquer coisa...

PS2: Acho que a última vez que levei gente assim a sério foi na 8a série. Mas o universo foi caridoso comigo, e mandou vários professores soviéticos jantarem lá em casa...

nóia do Ram em terça-feira, junho 14, 2005/

 
MUITO BARULHO POR NADA

Aqui nos EUA os republicanos e conservadores reclamam que a Suprema Corte está liberal demais para o gosto deles. Pior, que se não aprovarem juízes A,B ou C para as próximas vagas, Jesus Cristo não terá seu lugar em Washington. Pois bem, por curiosidade, devido a uma decisão de 6-3 para repelir, por bias seletivo no juri, algumas penas de morte decretadas no Texas, fui ver a biografia dos juízes da suprema corte. Dos 9 juízes, nada menos que 7 foram nomeados por Reagan ou Bush pai. Somente 2 foram nomeados por Clinton. Ou seja, se os republicanos estão com dor de cotovelo, que se entendam primeiro com sua própria consciência política. A corte é essencialmente conservadora, a não ser que Reagan e Bush pai tenham tido acessos de loucura e escolhido pessoas que não atendam ao perfil republicano.

Uma outra reclamação comum dos republicanos é que os juízes ativistas estão roubando a cena nos "Circuits of Appeals" norte-americanos. Pois uma pesquisa recente indica que a maioria esmagadora dos juízes vitalícios americanos foram nomeados por Republicanos (cerca de 65%). Mas os mesmos republicanos da bíblia, um sub-gênero do partido, gostam de defender os juízes ativistas que usam os princípios cristãos para tomar decisões. Bill Frist defende gente assim, e no mesmo discurso ataca o outro lado. O sistema judiciário americano é essencialmente conservador. Infelizmente, a constituição norte-americana, que é democrática, e também pode ser dada uma leitura essencialmente conservadora, não é cristã. Ela tem fé em Deus, mas não na bíblia de Jesus Cristo ou na opinião dos pastores evangélicos.

Mas, a maior infelicidade de alguns dos bible-belt republicans ainda são os movimentos de direitos civis nos Estados Unidos na década de 60. Especialmente se irritam com os movimentos para liberdade sexual. E isso não tem nada a ver com a historia do partido republicano americano.

O partido republicano foi fundado nos idos de 1850 por ativistas abolicionistas. Não se qualificavam como conservadores na época. E durante a presidência de Abraham Lincoln, o primeiro presidente republicano, foram feitas as emendas constitucionais para abolir a escravatura, a "equal protection law", e o direito dos negros ao voto. Não só isso, mas em 1896, o partido republicano foi o primeiro a favorecer o direito da mulher ao voto. Assim como a primeira mulher eleita para o congresso foi uma republicana. O partido tem uma biografia digna de qualquer partido "liberal".

A mudança do consenso sobre as direções do partido aconteceram durante a presidência de Franklin Roosvelt, que durante seus dois mandatos condensou algumas idéias republicanas com várias idéias próprias para recuperar os EUA da depressão, e garantir alguma segurança as camadas mais pobres da população. O exemplo de Franklin Roosvelt caracterizaria o partido democrata a partir de então, assim como Ronald Reagan redefiniu a cara do partido republicano durante sua presidência. A política conservadora cristã, que antes se encontrava em maioria no partido democrata, só começou a ter uma base séria no partido republicano ao final do segundo mandato de Reagan, e ao decorrer do primeiro mandato de Bush pai.

Os movimentos de direitos civis e a ampliação do judiciário americano aconteceram em dois períodos de tempo essencialmente dos Democratas, durante a presidência de Franklin Roosevelt, e posteriormente na era Kennedy-Johnson-Nixon. Estes movimentos começaram a erodir a base cristã ultra-conservadora do partido democrata. Durante o primeiro mandato de Reagan, muitos dos ultra-conservadores se diziam independentes. No fim do primeiro mandato de Bush pai, eles já se auto-denominavam republicanos. Ainda hoje, no entanto, eleitores cristãos ainda votam dividido nos dois partidos.

A maior diferença está sim nos votos do interior norte-americano, o bible-belt politics, que passou a votar mais expressivamente no partido republicano. Outra diferença é que as cidades industriais que eram essencialmente republicanas, passaram a ser mais inclinadas a votar no partido democrático, consequência da mudança de perfil do partido feita após a era Roosevelt. O voto não-obrigatório transformou as últimas eleições em trazer mais eleitores convictos para as urnas, ao invés de convence-los das diferentes ideologias partidárias. Isso fez com que a força da bible-belt politcs em Washington fosse desproporcional até mesmo o que as urnas norte-americanas disseram, e a opinião pública republicana (ou seja, feita somente entre eleitores republicanos) demonstra.

Mas, as nomeações de juízes feitas por Bush Sr. e por Reagan não são aceitas pelos políticos o cinturão da bíblia como sendo representativos de sua nova visão para o partido republicano, como sendo aquele que essencialmente abraça e representa os movimentos ultra-religiosos cristãos americanos na política. Daí, a tal choradeira infeliz.

Hoje, a polarização clara entre os dois partidos não reflete necessariamente a moderação, e as posições históricas de ambos. Reflete sim, um novo mundo da política, onde as campanhas massificadas de eleição se baseam em venda de perfil e apresentar uma imagem que atraia eleitores convictos ao invés de eleitores em potencial. O mandato de Bush não é o que pode se chamar de um mandato claro da esmagadora maioria, como boa parte dos mandatos aqui nos EUA não foram. Os americanos são ambiguos, cuidadosos e divididos em suas opiniões e posições políticas, e talvez seja este o motivo deste país ter passando por tantas revoluções políticas e culturais nos últimos séculos.

Portanto, os conservadores e liberais, começaram do pó, e voltarão ao pó, ciclicamente. E a Suprema Corte também. Só não vale é chorar pelo leite derramado, quando você mesmo o derramou...

nóia do Ram em terça-feira, junho 14, 2005/

segunda-feira, junho 13, 2005

 
DO ROCK ET AL

Se existe uma pessoa que entende de rock é o velho amigo Rafael Gaúcho, que no momento, e provavelmente por muito tempo no futuro, não tem a pretensão nem um blogue para escrever sobre o assunto. Uma pena, porque em geral os textos sobre rock no Brasil se limitam aos flashbacks de Arthur Dapieve ou aos humores de gente como Dodô. Tem muita gente que escreve, mas poucos se habilitam a descobrir um pouco mais dos momentos históricos envolvidos, do porque uma banda fez isso ou aquilo, qual era a estética, as motivações, e quais foram as inovações trazidas por um determinado grupo.

Quando quero saber o que se passa no velho mundo do rock, escrito em português, acabo encontrando na net textos que só opinam sobre as músicas (gostei-não gostei), que ficam se referindo aos clássicos do rock mas se percebe claramente que o autor tem pouca familiaridade com o assunto, ou que passam longe de acrescentar qualquer coisa a um infomercial do Segundo Caderno sobre a banda. Cadê os loucos de plantão que se metem a estudar a entonação de voz do Billy Corgan, para descobrir que ele empresta da Nico do Velvet? Ou que Iggy Pop foi o Jesus Cristo de Nevermind do Nirvana, ou ainda que o grande confronto nas esquinas de Nova Iorque entre os negros e os roqueiros dos anos 70 deu muitas crias? Até coisas simples como descobrir os riffs do Eric Clapton, e porque ele mudou a maneira de tocar umas duas ou três vezes, valorizando uma nova "Blues Breed", ou ainda porque White Stripes empresta sem pudor do Glam dos anos 70, e parece novidade.

Tanta coisa a ser descoberta no mundo da música, e pouca gente escreve sobre isso não? Mas ainda assim, graças ao Rafael, me interessei um pouco pelo assunto, e ao menos tive o prazer de descobrir vários clássicos do rock, de viver com eles, e de passar horas ouvindo o Maionese e ele arguindo se "The Clash" é trash perto de Nick Cave ou se os riffs de Pale Blue Eyes na voz de Nico são ironia fina de Andy Warhol. Parecem coisas bobas, mas ao menos te fazem querer descobrir mais da música, que acho que é o objetivo de toda boa discussão ou de bons textos.

nóia do Ram em segunda-feira, junho 13, 2005/

sexta-feira, junho 10, 2005

 
ECOAM PELO AR ESTóRIAS DE TESOUROS ESCONDIDOS ...

E em busca deles, fui assistir a "The Glass Menagerie" de Tennesse Williams com a linda Jessica Lange em um dos papéis principais. Tennessse Williams capturou toda uma era com suas peças-peças. Digo peças-peças porque aqui em Nova Iorque hoje o musical tomou o lugar que era do teatro uns 50 anos atrás. Talvez a maior mudança tenha sido a massificação do cinema, que por ser mais barato acabou tomando o lugar das peças. A história é bem interessante, com a migração de astros, como Marlon Brando, o último "grande" do teatro americano, e de escritores para Hollywood.

"The Glass Menagerie" é a estória de uma família fraturada. O pai de família, que trabalha para uma empresa telefônica, foge porque gosta de "long-distance", num trocadilho acrescentado na versão atual da peça. A mãe, decepcionada, super-protetora, bela e insegura tem que criar um filho que tem as mesmas tendências que o pai, e a filha que sofre de pânico, sendo extremamente tímida, e tem uma deficiência física pois lhe falta uma perna. O foco da peça inteira é capturar ao mesmo tempo a dinâmica familiar, as preocupações dos homens comuns e dos artistas durante o pós-guerra norte-americano. O filho, que é também narrador da peça, escreve poesias, tenta escrever um livro, mas trabalha durante o dia numa casa de estoque, num cargo que lhe paga razoavelmente mas é tremendamente burocrático. Seu dinheiro sustenta a família, apesar da mãe se esmeirar em vender assinaturas de revistas para ganhar algo extra.

Tennesse Williams escreveu a peça de forma a sugerir uma relação de amor-domínio entre mãe e filhos, e uma relação quase incestuosa entre os irmãos, já que ambos são personagens completamente inadequados a realidade. A irmã do personagem principal tem como atividade mais importante cuidar de pequenos figurinos de vidro que coleciona, além de ouvir o gramofone. A mãe chama a sua coleção de "Glass Menagerie". O absenteísmo do pai, refletido no filho, é também contrastado pelo melhor amigo de trabalho do filho. Enquanto o filho quer fugir, imagina uma guerra, quer aventuras, vai toda noite ao cinema e beber, escreve poesias, o amigo faz cursos de palestras, um diploma extra de engenharia de rádio - para seguir a televisão, a mídia e o poder, nas palavas dele - e tenta compensar o não atingimento de sua promessa de segundo grau, onde era hiperativo, e popular.

O filho foge tanto da realidade quanto a irmã, e somente devaneia seu papel de artista aventureiro. Tennesse Williams é genial em colocar pequenos momentos que "entregam" o personagem aos olhares mais atentos. E os pequenos momentos do filho constroiem seu caráter quase falso ideologicamente, vazio pela falta de pai. Talvez a criatividade do falso artista vem da amargura, da ausência ou da fuga. Uma mensagem sutil, mas um interpretação minha do que se passa na peça.

A mãe praticamente quer que o poeta se torne o hiperativo amigo. Mas ela mesmo guarda a arte em seu peito através da dor, e de pequenos momentos onde lágrimas saem dos seus olhos, ao admitir que foi abandonada justamente por ter escolhido se casar com o homem que lhe lembrava de uma fantasia: um ator que ela achava lindo. O pai foge da responsabilidade, da mulher falante mas sincera e linda, e dos filhos. A medida que o filho se entrega a poesia, mais se torna egoísta, e mais se distancia de sua família. Ao ponto que a relação quase incestuosa com a irmã se torna esquecida, rompida. A irmã, sempre em seu próprio mundo, incarna uma criança solitária, em meio as pretensões de adultos e artistas. No fim, tudo que o filho consegue é fugir da cidade, e continuar bebendo e vendo filmes, e em momentos de melancolia ver a Glass Menagerie em vitrines de lojas de enfeite. E lembra-se de sua irmã, a verdadeira "arte" na família, como ele mesmo depõe.

A falsidade do mundo, dos ideais, e a própria inocência deturpada de mãe e filha repetidamente aparecem nesta peça, que apesar de ter envelhecido um pouco, ainda é um bom divertimento. Jessica Lange está perfeita no papel de mãe, e Christian Slater, um pouco bonachão como pede seu papel, se segura bem nos momentos de transformação do seu personagem, o filho. A atriz que faz a filha é ótima também, mas pouco sofre transformações e se o narrador é o filho, a observadora é sempre a filha. Ela observa os sonhos fraturados da classe média americana no pós-guerra, dos filhos artistas a mães que imaginavam que seriam aristocratas aos homens de família que fugiram de suas pequenas prisões após ouvirem a intensidade das aventuras de guerra... A impaciência do filho me lembra muito os dias de hoje... Uma peça que vale uma leitura rápida.

A próxima da minha listinha é "Who's Afraid of Viriginia Woolf?". Estou planejando assistir a 3 peças de teatro este verão, e dois musicais (Spamalot e The Producers). Assistiria mais se não fosse tão caro... É um dos meus programas prediletos aqui em Manhattan, e você pode comprar ingressos com desconto no booth da TKTS na 46th Street com Broadway. Em geral, peças muito novas e populares não tem ingressos com desconto, mas a maioria tem, e são de cerca de 50% para orquestra (ou seja, somente para os melhores lugares).

nóia do Ram em sexta-feira, junho 10, 2005/

 
COCA

Duas toneladas por mês de cocaína são movimentadas só por uma quadrilha de Santos que repassava boa parte para Rocinha. Ou seja, 400,000 papelotes de 5g puro por mês, que se colocarmos a US$10,00, são cerca de 4 milhões de dólares ao mês, por uma quadrilha de cerca de 60 pessoas. Por ano, são 50 milhões de dólares ou 100 milhões de reais. Gostaria mesmo de saber se é possivel movimentar uma soma tão alta de dinheiro, ainda mais transportando drogas, sem a conivência de: (1) bancos, (2) políticos, (3) policia federal e rodoviária, (4) empresáriado (transportadoras et al). Isso fora o sistema judiciário que já é bem comprometido. E outra coisa, quem são os consumidores de 400,000 papelotes por mês no Rio de Janeiro? Ou seja, há conivência da população. Existem só para este bando, no mínimo 12,000 consumidores por mês, considerando que eles estão utilizando aproximadamente 1 papelote por dia, o que é bem mais que a média.

Estas 12,000 pessoas, que se referem só ao caso Naldinho, deveriam saber que ferram com a vida de 8 milhões de pessoas (Rio de Janeiro) devido ao seu hábito. Sim, é seu direito usar drogas. Mas sociedade é também um lugar para se viver sem perturbar muito aos outros. Se os 12,000 ferrassem somente a vida de uns outros 12,000 poderia se resolver tudo a base de um vale-tudo. Infelizmente como os 12,000 em geral são gente fina, e os 8 milhões fingem ignorar que um grupo tão pequeno possa atrapalhar suas vidas, a coisa continua... O dependente químico pode ter lá suas razões para usar as drogas. Assim como existem muitos outros desequilibrios psicológicos que causam as pessoas a fazerem atos que prejudicam a sociedade. Nem por isso devemos defender estes cidadãos, que por sua absoluta falta de consciência produziram um dos grandes infernos numa das cidades mais lindas do mundo.

Quando 12,000 prejudicam 8 milhões, devemos nos questionar se a liberdade a que os 12,000 se referem não está passando dos limites. Já vi bem de perto o problema e o mundo das drogas, e nem por isso aceito a "piedade ao drogado" militada pela maior parte das pessoas. A bem da verdade, no tal mundo vivem sim um montão de gente que não é viciada, tem plena consciência do que faz, mas prefere manter sua prática que debilita a vida dos outros, e sua própria saúde, a encontrar alguma alternativa. Sinceramente, se o cara quiser usar cocaína, porque não ir a Colômbia e morar por lá? Ao menos assim concentramos o problema num país só... E quanto a questão da legalização das drogas, é mais uma fórmula mágica. Legalizar as drogas vai criar uma verdadeira guerra nas cidades brasileiras, pois duvido que o tráfico aceite perder o monopólio das mesmas. Pior, pode transformar o Brasil na China do início do século, que destruiu todos os resquícios de cultura, humanidade e coesão da sua sociedade devido a "legalização" do ópio.

Uma coisa é verdade, não interessa nem as 12,000 pessoas, nem aos políticos, e nem a várias pessoas envolvidas economicamente com o tráfico, o fim do tráfico de drogas... Portanto iremos conviver com o tal poder paralelo, que tanto noticia o Globo. E os caras "legais" que estão usando cocaína, maconha, lsd, e tudo mais nas festinhas de fim de semana continuarão ferrando com a vida dos outros indiscriminadamente. Existem limites para nossas ações. Poderiam até criar uma vilazinha no Vale do Jequetinhonha para este pessoal, e colocar lá também as facções dando tiros umas nas outras. Sem direito a usar a graninha deles para comprar carros blindados, portaria hiper-segura ou condomínio na Barra da Jequetinhonha.

PS: Nada contra quem quer usar drogas. Só compre em outro país, e incentive o tráfico de lá.
PS2: Eu não entendo uma coisa, tanta gente é contra as empresas que destroem o meio ambiente. Fazem movimentos, passeatas, e conseguem multas e até o fechamento de empresas que sujem uma praia ou rio. Porque prejudica o meio-ambiente e a sociedade não é? Porque até hoje não vi uma só passeata contro o uso das drogas? Os usuários estão prejudicando a sociedade também. Não se trata de resolver o problema do tráfico através do controle do usuário... Mas sim de conscientizar as pessoas que quem usa a droga é tão "reacionário, nazista, de direita" quanto as empresas que poluem o meio ambiente...

nóia do Ram em sexta-feira, junho 10, 2005/

quinta-feira, junho 09, 2005

 
DÉFICIT

Pesquisa no Globo. A média de mulheres que vivem desacompanhadas pelo Brasil é de 45%. A média de homens que vivem desacompanhados é de 35%. Déficit de cerca de 10%. No Rio de Janeiro, 47% vivem sozinhas, contra 35% acompanhados. Déficit de 12%. Fazendo as contas rapidamente, e levando em conta o percentual de crianças na população, chega-se a conclusão que existem 1,2 milhões de mulheres desacompanhadas a mais do que homens. Ou, para cada homem solteiro, existem 1.3 mulheres disponíveis. Num chute, levando em consideração a vasta quantidade de homens homossexuais, pode-se dizer que para cada homem solteiro existem aproximadamente duas mulheres solteiras.

Ou seja, de certa forma, homem só está sozinho porque quer.... E para as mulheres que querem mudar da coluna sozinha para acompanhada, sugiro uma visita rápida a California, onde se observa situação contrária. Outro dia, ainda ouvi aqui de duas brasileiras independentes, que elas procuram o príncipe encantado. Infelizmente, eu não sou príncipe, sou Rajá!

nóia do Ram em quinta-feira, junho 09, 2005/

 
BANQUEIROS CANHOTOS

O César, num bom post do blogue dele, afirma que com Lula, a "direita" já está no poder, através dos banqueiros e da oligarquia que faz parte da "governabilidade" do PT. Não, os banqueiros ou oligarcas não representam a "direita", e há uma possibilidade de uma via melhor pela esquerda verdadeira, mas inexistente. Acho que é uma visão antiga da realidade. Há uma certa "filosofização" do mundo real... Infelizmente, não existe nem direita, nem esquerda no Brasil. E mais, se de alguma o Brasil precisa, é capitalismo de verdade, com gente incompetente sendo expurgada do sistema. Isso se opõe ao "welfare state" social proposto pela esquerda. Um welfare state só pode ser estabelcido se o país estiver desenvolvido, senão funciona como mecanismo de concentração do controle de renda na mão dos fazedores de decisão, que no Brasil estão completamente despreparados.

Se ao invés dos nossos jovens lá no Brasil pularem feito chimpanzés quando se diz qualquer coisa que não a ladainha esquerdista, pudessemos ser mais preocupados em reconstruir um pedaço da independência econômica da sociedade, talvez estariamos mais próximos de podermos discutir se "direita" ou "esquerda" mandam no Brasil. Do jeito que está, o que se chama de esquerda é mero sentimentalismo, que apela para a psique das pessoas que simpatiza com os menos afortunados.

Quanto ao "american way" ser bom ou não para o Brasil, é uma discussão idiota. O Brasil precisa é do "brasilian way", que por sua vez não tem nada a ver com o "parisian way". Mas uma coisa eu afirmo, e vocês podem me cobrar daqui há cinqüenta anos: se os jovens brasileiros não desenvolverem o país agressivamente, não se agarrarem a ambições além de aparecer no jornal, o país vai no máximo se tornar um celeiro agrário. Pode até parecer que isso é muita coisa, mas para o Brasil caminhar para o primeiro mundo é muito pouco. Vivendo e convivendo aqui, eu percebi a competitivade, ambição e agressividade dos jovens indianos e chineses. Estão há anos luz adiante da nossa...

PS: Falando nisso, um dos meus ex-chefes do Pactual votou no Lula e é "socialista" ! Há, quero ver explicarem isso...

nóia do Ram em quinta-feira, junho 09, 2005/

 
COMPLAINT MODE

Só para terminar a fase do complaint, na hora do almoço, e voltar ao trabalho, uma das coisas que mais me irrita é hipocrisia. Sabe aquelas pessoas que mudam o papo de acordo com a multidão? Que uma hora concorda com uma idéia, um ponto de vista, mas quando em proximidade de algum interesse ou de algum grupo que discorda, muda o discurso? Isso é muito triste. Mas habita todas as esferas do cotidiano. Aqui na IBM tem várias pessoas assim. Vários estágiarios até, logo nós, os jovens que devemos acreditar em nossas próprias idéias e tal... Lá em Berkeley tem um montão de gente assim. E nos meus empregos no Brasil nem se fala...

Uma vez me irritei tanto com um sujeito que apareceu com uma destas na frente do nosso chefe, que quando interpelei ele "Mas você não disse um pouco antes que concordava com esta forma de fazer isso e isso uns minutos atrás?", e ele responde na cara de pau na frente do chefe "mas isso era antes. Agora to entendendo melhor, e não acho que é bem assim. Até concordo em parte, mas concordo mais com o Ricardo" (Ricardo era o chefe). Prefiro gente mentirosa do que gente hipócrita. Ao menos a mentira embute o teorema de Wittgenstein de controle: Separation of concerns. Ou seja, ao menos na minha pequena mente, as coisas mantém um aspecto contínuo, e não toma choque de inconsistência. Não que eu seja muito consistente... Mas jamais larguei o osso de alguma coisa que eu disse há uns minutos atrás.

Mas tá certo. Vai ver que é por isso que algumas Berklianas me chamavam de "nazista, reacionário, homófobo". Quem sabe, um dia se eu tiver milhões e milhões, vou comprar estas pessoas para dizerem as coisas mais absurdas... Aposto que elas se vendem. "Eu gosto do teorema do Elefante Rosa", "Viajei e conheci a Perinopécia", "Adoro morder parafuso"... Ah, até vale a dor de cabeça de ter que ganhar a grana por uma coisa destas né ... O poder corrompe. Mas a sede pelo poder prostitui....

PS: O pior que gente assim ainda te diz depois, que isso é ser "flexível", "democrático", "adaptável", "diplomático". Até "inteligente" eu já ouvi. Flexibilidade instantânea te qualifica para ir as olimpíadas no lugar da Daiane dos Santos.

nóia do Ram em quinta-feira, junho 09, 2005/

 
SUSPEITE SEMPRE

Ontem no jogo do Brasil, uma conhecida reclamava dos vários rapazes que ela namorou e coisa e tal. Aparentemente todos sofriam da síndrome do CavaLheiro: românticos, poéticos, literatos, com bom emprego, mas sempre fugiam da raia quando o envolvimento se tornava maior. E depois apareciam com o papo de ser amigos, de dar apoio. Ela até aceitava o agrado, algumas vezes por carência, outras porque não sabia mesmo como se livrar do indivíduo. Mas encontrou uma solução alternativa. Esta conhecida foi se reconfortar com uma, digamos, amiga dela. Mas deixou claro que não desistiu de casar, ter filhos e coisa e tal. Que indelicadeza com a, digamos, amiga, não? Pois não é que a amiga disse o mesmo... Segundo elas estão se reconfortando, até encontrarem, digamos, o próximo. Coisa demais para minha coleção de Ticos e Tecos.

Quanto aos tais homens assim-assado que as pessoas reclamam tanto, quero ver quantos encaram os nerd-droids do departamento de CS de Berkeley. Nunca traem, não são nem muito românticos, são um pouco poéticos, até são esquerdinhas, só que mulher alguma se engatinha por lá. Preferem ronaldinhos, ronaldões, e italianos. Estes, mesmo os de CS, estão entre os que mas fogem da tal arraia. O mundo sempre foi e sempre será dos espertos. Pena que as pessoas procurem os espertos, e depois fiquem chateados com as espertezas, e acabem generalizado a esperteza alheia. Até os nerd-droids perdem seu crédito nerd, e ficam parecendo "homens espertos".

Eu que não tenho nada a ver com tudo isso, só imagino que quando as pessoas pararem de hipocrisia, acho que vai faltar calor termodinâmico para fazer o mundo continuar girando e existindo. A entropia tem que ir aumentando sempre. Ou seja, entropia é igual a confusão, e como ter confusão, se todo mundo só fizer mesmo aquilo que acredita né? Só disse as duas colegas para elas não perderem a fé no homem. Se ele evoluiu do macaco, pode passar também dos senhores cavalgadas.

PS: Na volta do trabalho anteontem, de trem, um cs-nerd me encontrou no trem. Acreditem que ele preferiu passar a viagem mudando de assunto para "discutir" "programming languages" do que aproveitar a linda paisagem interior e exterior da viagem... Mas nem por isso, prefiro as pessoas "espertas". Estas são que nem o diabo naquela piadinha sobre emprego... Para quem não conhece:

Morre um destes consultores "espertos", que ganhavam bem, jogavam golfe e coisa e tal. Como ele havia feito coisas boas, e coisas ruins, São Pedro decide deixar ele escolher depois de uma visita ao céu e ao inferno. Primeiro, o consultor vai ao inferno, e Lúcifer, "esperto", apresenta campos de golf, festas, mulheres lindas, e todos seus amigos que já haviam morrido se divertindo e coisa e tal. A vida de sonho que o consultor sempre sonhara. Ele fica muito empolgado. Nunca imaginara que o inferno pudesse ser assim. Depois ele vai conhecer o céu. Tudo azul, músicas saindo de harpas, anjos deitados em nuvens. Tudo bonito, meio monótono, nada excitante como lá na terra do "esperto" Lúcifer. Então São Pedro pergunta ao infeliz se já havia feito sua escolha. Nisso, o consultor responde sem titubear: "Quero ir para o inferno! Sem dúvida!". São Pedro argumenta: "Tem certeza?". O infeliz responde: "Certeza absoluta. O céu é bonito e tal, até toca Chopin. Mas não é emocionante, não tem festas... Parece meio chato. Já o inferno, todo mundo que eu conheço está por lá, é sensacional...". Então é feita a vontade do infeliz. Ao chegar no inferno, assim que se abrem as portas e ele entra, Lúcifer põe umas correntes nele, dá chicotadas e faz ele trabalhar nas minas infernais. O consultor estupefato, "mas, mas... Que é isso? Não era assim que o inferno era...". Lúcifer, "esperto", responde: "Pois é, antes você era um prospecto (candidato), agora é um funcionário!".

Bem parecido com o mundo dos espertos né...

nóia do Ram em quinta-feira, junho 09, 2005/

 
POLÍTICO É (QUASE) TUDO PALHAÇO
(seguindo Homem É Tudo Palhaço)

Não é que o genuíno Genuino se sai com uma destas:

"Más companhias são assunto do governo, não do PT."

Quer dizer que o PT não é o governo? Puxa. Isso parece papo de homem que casou com duas mulheres, tem duas famílias, e quando uma descobre a outra, ele quer fugir para Utah, onde você pode mesmo casar duas vezes.

Esta estratégia do PT de separar o "Lula do governo" do resto do "gobierno" é coisa de palhaço. Pão e circo para o respeitável público-polvo-brasileiro... Ah, um dia vamos todos para Gibraltar!

nóia do Ram em quinta-feira, junho 09, 2005/

 
CONFUSÃO DE NOMES

Ontem quando a burocracia da IBM me contatou para oficialmente conectar o meu telefone do escritório ao meu nome, ou seja agora não vou mais poder ficar passando trotes nas pessoas do trabalho, passei por maus bocados. Primeiro eu não sabia o número da minha própria sala, porque os corredores da IBM são tão aleatórios, que o único jeito de você encontrar sua sala é memorizar como chegar lá a partir de algum ponto de referência. E todos corredores são parecidos, que nem na cabeça do John Malkovich.

Então tive que ir do lado de fora da minha sala, pedir um "excuse-me" a burocracia que ficou suspeitando de mim depois disso, para ver o número. Quando voltei, a senhora gentil perguntou qual o nome do meu "officemate", que até é gente boa - estimativa minha, porque ele fala inglês muitooo mal, tanto que uma vez ele me chamou para almoçar e eu lhe dei as direções para o banheiro/bebedouro, coisa que o irritou profundamente. Eu disparei Feng Zhang. Ele disse alguma coisa para mim, corrigindo o próprio nome. Só que eu não conseguia entender, e disse para a burocrata: Feng Zhao? Ela respondeu dizendo que tal funcionário não existia no banco de dados... O meu officemate escreveu o nome dele no quadro, com marcador que não apaga, é Fung Zheng. Putz... Nunca ia adivinhar. Ainda mais ele falando chinês comigo. Ele voltou a ficar irritado. Para quebrar o gelo, dei para ele um chocolate de graça que tinha achado no escritório. Mas ninguém vai contar isso a ele, né...

Estes nomes chineses são complicados. É fácil trocar, ainda mais quando eles falam rápido. Pior é se você quer espionar a vida do cidadão para se certificar que não se trata de um serial killer. No Google, qualquer nome chinês dá no mínimo 1,000,000 de matches. Fala sério. E para vocês verem que não era besteira, quando coloquei Fung Zheng, adivinham o nome que o Google sugeriu como alternativa? Feng Zhang!

PS: O maledeto Fungo agora deixa o celular falante dele ligado o tempo todo.

PS2: Vocês acreditam que tem gente que liga para o meu escritório querendo saber de pizza.... Que coisa! Outro dia ligaram também querendo saber quando o pneu ficava pronto. Eu emendei logo, daqui a uns 3 dias. O cara ficou com raiva. Aí eu disse que era IBM, e ele bateu o telefone... Logo quando eu estava concentrando na solução de um problema!

nóia do Ram em quinta-feira, junho 09, 2005/

 
ARGENTINA 3 x METRÔ 1

Fui ao deprimente jogo do Brasil ontem, pensando que ia ter um monte de gritaria e alguns argentinos para ficar zoando. Nem um, nem outro. E ainda peguei um metrô cheio de bizarrices. Fui parar no outro lado do Queens, num lugar chamado Astória. No caminho, um anão tocou flauta e violão ao mesmo tempo, e depois pediu dinheiro dando pulinhos. Imaginem só os peruanos do centro da cidade no Rio, que tocam sempre aquelas músicas pam-pam-paaaam-paparam-pampaamm. Agora reduzam a figura de tamanho por uns 50%, inclusive os instrumentos, inclusive o timbre da voz, e você tem esta que apareceu no metrô.

Tudo que eu queria era poder continuar lendo um artigo chamado "StatStream: Statistical Monitoring of Thousands of Data Streams". Tudo bem que cientistas da computação não tem lá muita imaginação para dar nome as coisas. Mas esta coisa de ser literal no título de artigo de conferência é bem pobre. Primeiro o nome já é ruim, porque StatStream vem do tal Statistical analysis de Streams. Mas toda análise de streams é estatística. Ou seja, uns 15,000 papers poderiam se fazer valer disso aí. Agora colocar "Monitoring Thousands of Data Streams" é apelação. Quase como colocar no Orkut o nick "Garota Gostosa", e depois colocar foto da bunda e na description "garota muito gostosa". Nerd que vai ao orkut, por natureza, quer imaginar garota gostosa... Por natureza qualquer coisa que lide com data streams, tem que lidar com thousands of streams... Revoltado com o título, já nem levei o artigo tão a sério. Só fui ver de onde era o tal paper. Adivinhem? New York University. A central universitária dos pela-sacos. O lugar menos "universidade" e mais "wall street" que já conheci em matéria de campus.

Voltando ao metrô, depois eu conto a vocês da minha visita a NYU, logo depois do micro-peruano, a viagem foi tranqüila até o Girassol. Quando cheguei o Brasil já perdia por 3x0 e o pessoal já tinha desistido. Como eu não desisto nunca, até apostei um copo d'água que em 20 minutos, o Brasil fazia dois gols. Não fosse o artilheiro paraguaio do nosso time, Adriano-ex, teria sido verdade... Parreira deveria viajar de metrô em Nova Iorque para parar de ser marrento, e ficar convocado frigideira. Não é que o Adriano fez de tudo o mais díficil, driblar uns quatro na base da trombada, e perde o gol. Depois disso, literalmente comi inhame e voltei para casa.

Na volta, no metrô, um mendigo alertou vários passageiros para os ladrões de badaluques eletrônicos. Eles entram numa estação de metrô, arrancam o badaluque da sua mão, um celular, um ipod, e saem correndo. O incauto fica a ver trenzinhos. Depois de explicações detalhadas, todos os passageiros comovidos deram esmola para ele. Fiquei pensando que seria uma boa que certos badaluques fossem roubados... Como o celular do meu "officemate" - só mesmo americano para colocar cópula e escritório numa palavra só - que toda vez que alguém liga, ele fala "Fung there is a call for you". "Fung there is a call for you", "Fung there is a call for you". Da primeira vez tomei um susto desgraçado, afinal só havia nós dois na sala que estagnários dividem, e uma voz do além começou a falar. Depois vi que o estag tinha posto seu "ringtone" para ser esta voz feminina robotizada chamando ele. Deprimente né. Imagina só que uma vez estava numa reunião e o celular do infeliz tocou. Todo mundo tomou um susto. Eu fiquei rindo.

Bom, calhei logo também de pegar o metrô-sucursal-do-inferno, porque o ar condicionado estava quebrado, e o vagão com cheiro de lixo. Mas cheguei rápido em casa, e logo entrei no meu quarto para esquecer esta noite de anões, mendigos, celulares e um capiau de 3x1 que viajei uns 45 minutos de ida e mais 45 de volta para ir assistir. Pior que, que nem o Fung, ainda tentei convencer uns malas da IBM a irem comigo. Os manés preferiram ir ver o jogo de beisball dos Mets. E isso sim é programa de índio... O meu é só de tupi-guarani... Índio que não faz revolução comunista.

nóia do Ram em quinta-feira, junho 09, 2005/

domingo, junho 05, 2005

 
MORTE A ESPIRITUALIDADE, VIVA A O QUE?

O espírito, a possibilidade de experiências espirituais, possíveis sim por experiência própria, está sendo destruida pelos dois lados. Por pessoas, que mesmo sem se disporem a buscar por tais experiências, mesmo sem encontrar satisfação suficiente em seu estilo de vida, ainda preferem atacar, ironizar, destruir e impedir a partcipação da espiritualidade na vida dos outros. O preconceito é tal que qualquer menção de milagres feitos por santos, da alegria e energia que atividades como meditação podem trazer, da possibilidade real de se transcender os primeiros instintos mentais do homem não são nem dadas a benção da dúvida. São simplesmente riducularizadas, e transformadas em lixo que desanima qualquer jovem menos capaz de perceber por si mesmo as possibilidades.

Para isto tais pessoas usam como argumento os vários charlatões que se envolvem com espiritualidade. É realmente, este é o outro lado da destruição. Os tais charlatões. Desde que se levou a velocidade materialista ao encontro da espiritualidade, o ocidente ao oriente, o número de charlatões se multiplicou. Todos querem milagres, experiências "extra-corpóreas" e outras aventuras que só aparecem em parques de diversão. Poucos se preocupam com a essência da espiritualidade: resolver e tratar as intensas dores psíquicas e físicas trazidas pelo simples ato de existir neste planeta. Os charlatões são apontados como o coletivo que lidera o mundo espiritual. Infelizmente, a coisa é sempre dois pesos e duas medidas. Quantos médicos charlatões, artistas plásticos charlatões, juízes e outros profissionais charlatões existem por aí? Para estes damos o benefício da dúvida, ou ao menos, se não é de nossa experiência aceitamos ignorar.

Ignorar o que desconhecemos ou não estamos dispostos a pesquisar é uma atitude correta e sincera. Permite que outros busquem a experiência. Destruir o que se desconhece, por simples dogma, por vaidade intelectual mesmo sem ser baseada em um único instante de experiência ou pesquisa é maldade. E esta maldade é cometida por pessoas que não encontraram ainda satisfação em suas próprias vidas. Quantos não prometem o paraíso na vida meramente intelectual, e acabam se tornando homens sem brilho, sem valor pela vida, e com um cinismo tão imenso que mata a juventude de qualquer um que se envolva com eles? Tal é o homem moderno. Prefere aceitar "Dostoiévski" como modelo de ser humano, mesmo quando este afirma com todas as letras a dor do homem-carne, a tragédia que pode ser viver só da cabeça. Preferem ignorar quem foi Dostoiévski.

Entregamos nossos jovens hoje completamente na mão de pessoas infelizes, nada saudáveis, terrivelmente ambiciosas, mas incapazes de controlar os menores indícios de depressão, fadiga, desilusão com a vida material e intelectual, impulsos sexuais descontrolados e toda sorte de outras tensões mentais e físicas. Não estou aqui dizendo que "espiritualidade" é a solução. Nem que não existem charlatões. Mas sim, estou dizendo que existem milagres. De verdade. Experiências incríveis, muito além do que se imagina por livro. E da minha parte, existe cada vez mais a realização que nem sempre a vida é o que parece, que o que queremos raramente envolve uma análise profunda, espiritual e mental, das consequências do querer, e que são poucos os homens que tem a profunda coragem de rejeitar o espírito mas abraçar a vida. Quem abraça a vida, aceita todas as possibilidades...

Este homem cheio de críticas, descrenças, e incertezas sobre sua própria existência, e sem a vitalidade para encarar suas dúvidas, vivendo roboticamente, é o mesmo que é incapaz de ver evolução em qualquer coisa. Para ele, a ciência como tal sempre existiu. Toda matéria é intimamente conhecida. Os anseios do homem podem até advir da alma, mas tal alma se entende por abstração, não por experiência. Se Deus existe, ele prefere acreditar, seja por comodismo, ou por segurança. Mas nunca planeja verificar tal existência. Se Deus existe, tem que ser alguma experiência. Esta sempre foi minha única crença. Desde que tenho uns 10 anos de idade. Mas para aqueles que se negam a espiritualidade, nem mesmo esta negação é explorada com profundidade e inteligência. Se Deus não existe, se o destino é abnegado, então porque não agir por todos os desejos? Porque não atacar intensamente todas as vontades, com a certitude de se conseguir o que queremos a força? Porque não investir plenamente sua energia material, de maneira científica, para resolver as dúvidas, ânsias e frustrações contínuas? E finalmente, porque não estar satisfeito?

Creio que é porque raramente confiamos naquilo que dizemos acreditar. Mas sempre estamos dispostos a banir da vida de todos aquilo que fingimos acreditar. Afinal, para o homem bibliotecado, a vida não passa de uma sopa de letrinhas. Para o charlatão espiritual, a vida não passa de uma oportunidade de encontrar seguidores, ter algum conforto e dar algum conforto, e construir uma subsistência através da sustentação dos dogmas das pessoas. Mas ambos são a escória da humanidade, do meu ponto de vista. Cetismo sem empirismo, pseudo-ciência sem experiência ou investigação, promover para os outros um estilo de vida que não é suficientemente satisfatório para si, é hipocrisia. O mundo está cheio de hipócritas... Quando não se quer algo, que se ignore e permaneçamos calados. Ou se há algo a ser dito, que venha de pesquisa, experiência, tentativa e erro. Não de exemplos de terceiros, de usar como modelos charlatões, ou daquela opinião que é conveniente no momento, que lhe cria uma aura de coerência. Porque sim, você está efetivamente prejudicando os jovens de hoje. Lhes tirando opções. Afinal, o jovem procura ser guiado por aqueles mais experientes...

PS: Esta coisa do miserável querendo dar idéias para outros pobres se tornarem ricos é muito comum. Já vi muita gente que se sente miserável em suas próprias vidas, dando corda para outros jovens se meterem a fazer a mesma coisa que fizeram. Ora, porque em suas cabeças não fica só a experiência. Extrapolam mentalmente o que teria acontecido, se houvesse alguma outra circumstância. Isso não existe. Sua experiência é sua experiência, e somente a partir dela podem sair as palavras que usa para embarreirar o caminho dos outros... Se ao invés de embarreirar, investisse em oferecer opções, quem sabe o mundo não seria um lugar muito mais criativo e agradável?

Imaginem quantas pessoas eu já não vi dizendo para os outros que seria uma beleza ser Gauss ou Newton, ou que deveriam se envolver com ciência assim, ter a vida assim. Mas mal sabem eles das dores que estes homens sofreram. Que um Boltzmann se matou por depressão. Que Gauss escreveu em canto de livros que sua vida era uma miséria contínua. Provavelmente todos temos nossos sofrimentos, mas o prazer é também nosso, e para cada um é único. Ser gênio depois de morto ou vida é só reconhecimento, não é "estilo de vida". Aprender, estudar, compreender sim é estilo de vida. E quando um jovem encontra uma dúvida sobre a própria existência, aonde ir? Então que abram-lhes as avenidas do espírito, afinal quem somos nós para embarreirar a possibilidade de experiências? Se fossemos mais tolerantes com nós mesmos, acho que a quantidade de pessoas que seguem charlatões em qualquer faceta da vida seria bem menor... A necessidade de encontrar "um caminho" seria menor, e teriamos a paciência para pesquisar, tentar e errar, ao invés de assumir que este ou aquele "estilo de vida" é a "solução única". E acredito na inteligência do homem. E na inteligência do corpo, e especialmente da alma.

Infelizmente, cada vez mais estreitamos nossa maneira de ser... Da política a escola, estamos matando o homem!

nóia do Ram em domingo, junho 05, 2005/

 
UM PASSEIO POR NOVA IORQUE

Quem deixa de vir aos EUA porque não gosta de George Bush, ou porque este país é o atual grão-líder mundial, não sabe o que está perdendo. Tudo bem que é uma manifestação irracional, como deixar de conhecer Constantinopla, ou Roma em seu apogeu, porque não se gosta dos líderes. Mas vamos retornar ao que se perde. Bem, ontem, quem não veio perdeu um dos dias mais lindos aqui em Manhattan. Os europeus chamam Manhattan, a contra gosto, de "a capital do mundo". Eu já encontrei europeus que moram aqui há mais de vinte anos, odeiam os EUA, mas nunca arredam pé deste lugar. Até defendem o Castro, cantam na ópera local, e frequentam cafés. Mas porque?

Por causa de dias lindos como ontem. Ontem, para quem se dispôs a deixar o seu lado adulto-militante em casa, foi um dia com um sol bem público. Só que o dia estava ligeiramente gelado, ou seja, parecia que você andava em um ar condicionado a céu aberto. Um sol bem público aqui em Manhattan quer dizer que você vai poder ver a Catedral de St John Divine com raios de luz entrando pelos vitrais, vai encontrar todos os nova iorquinos na rua com sorriso na boca, as lojas e cafés todas com gente o suficiente para dar vida ao local, e você mesmo se sente um pouco no paraíso.

Claro, isso tudo exige que você deixe seu lado adulto em casa. Porque eu sei muito bem, e isso eu descobri conversando com um dos senhores do último andar, que o primeiro passo para se perder a graça nas coisas é viver carregando as necessidades de ser coerente, de ser político e de ser militante. Mas vamos retornar ao nosso paraíso da "capital do mundo", mais detestada desde o surgimento do noticiário globalizado. Pois bem, quem estava na quadra da 116th com Amesterdam ontem pode aproveitar uma das esquinas mais bonitas daqui. De um lado, a old-Manhattan e seus prédios clássicos, herança da merito-aristo-cracia local, que mantém a Columbia University e as várias congregações do lugar.

Olhando de frente para a igreja, você vê, por estar um pouco mais elevado que o resto da cidade, um vislumbre do Harlem, e mais lá embaixo o Spanish Harlem. Se você quer se imaginar numa daquelas novelas de Hemmingway ou do Graham Greene, ou descobrir de onde ele tirar aqueles cheiros e sons, basta dar um pulinho no Spanish Harlem em fim de semana ensolarado. Não fosse aqui a "capital do mundo", o lugar limpo mas não excessivamente, e onde todos parecem bem saudáveis e de roupas tininido, os vários latinos na rua ouvindo salsa em rádios com o volume no máximo, abrindo seus restaurantes com bancadas a la boteco, os velhos desdentados com alguns dentes de ouro sorrindo e conversando sobre beisbol, lembrariam das cidades da nossa querida América, com suas ditaduras, pobreza e desigualdade. Mas aqui é Nova Iorque, e tudo fica mais polido, mais limpo, e o que era para ser o filme Guantanamera acaba se tornando novela do Graham Greene.

Bem, vamos dizer que ao invés de aproveitar o sol lindo e ir para o Spanish Harlem, despido de suas adultices, e equipado com uma carteira e 20 dólares, você tenha decidido andar em direção a Broadway. Primeiro você passa pela frente de uma congregação judaica. Imaginem só, rabinos, judeus ortodoxos, não ortodoxos, e de repente você vê um negro de quipa. Ele é judeu, segundo o próprio. Se converteu. E não foi para se casar. É ou não sinal de que pode ser mesmo uma "capital do mundo"? As crianças sempre ficam brincando em frente a congregação. E são parecidas com aquelas do Spanish Harlem, só que ornamentadas com roupas diferentes. De um lado, roupas folgadas, abuso de vermelho, correntes grossas, boné do Yankees, estilo hip-eu-sou-mau. Mas brincando de Pokemon ou Magic Five, pulando corda, e fazendo algazarra. Do outro, roupas mais finas, camisetas estampadas folgadas ou camisas de botão, alguns até usando chapéu, como judeus ortodoxos devem usar, calças regulares e broches com mensagens. Mas brincando de Pokemon ou Magic Five, pulando corda, e fazendo algazarra.

Nos dias de sol, se decidir dar uma paradinha um pouco mais longa, você pode admirar várias lindas judias conversando entre si. Elas tem olhos claros, e boa parte, ao menos as mais bonitas, tem cabelos cacheados e castanhos. Em geral se vestem em vestidos brancos, e os olhos ficam refletindo o sol lindo. Uma visão realmente, coisa para abrir o apetite. Claro, na capital do mundo, você tem que tomar café da manhã ao sábado depois das onze da matina. Senão é sinal que você deixou de aproveitar a sexta-feira, tsc,tsc. Como somos crianças agora, e só temos vinte pratas para durar almoço e janta, e acabamos de ver judias lindas e o spanish harlem, porque não comer um burrito por 8 pratas?

O burrito é delicioso, mas o lugar melhor ainda. Em dia de sol, você vê alunos da universidade, o pai do Calvin e esposa - pois sempre estão com aquela roupa de ciclista e andando de capacete nos sábados de sol -, e um monte de gente de cara amassada acordando, e outras lendo livros. Quanta gente lê livros as 11 da manhã no local do burrito. Você pode conhecer um brasileiro mineiro dando em cima de uma americana do Arkansas, uma linda garota originária do Congo lendo Aristóteles, uma casal de roupa amassada e quatro filhos, todos amarelinhos, um cara de cabelos emaranhados, cuidadosamente sublinhando seu livro de medicina, duas meninas alternativas, provavelmente namoradas, se enrolando para pedir um simples burrito, os vários mexicanos que trabalham no local, e a linda caixa do local, que é descedente de mexicanos, e tem os lábios mais lindos e carnudos, acompanhados de um par de olhos de deixar você sem ar. E sim, tem a mão com a pele bem macia e cabelos pretos e lisos, como o das melhores heroinas do Greene. O melhor, em dia de sol assim, ela vai atrás de você quando está deixando o estabelecimento, só para dizer "obrigado por ter vindo". Com aquele sorriso, eu é que agradeço.

Como o dia está apenas começando, você pode ir andando dali até o Central Park. O parque central é comendável. Imaginem só, um dos metros quadrados mais caros do mundo, e bem no meio tem um parque enorme, para os esquilos, passarinhos, borboletas, desportistas, ciclistas, músicos de fim de semana, fazedores de churrasco, criancinhas, lindas mulheres bem vestidas e o resto da bio-diversidade habitarem. Quem se deu ao luxo de sair de casa ontem pode caminhar pelo parque em dia de ar condicionado. Uma das características do Central Park é que todo mundo está bem vestido, 100% do tempo. Como no cinema. O personagem acorda até de maquiagem, não é? Pois é assim. A "capital do mundo" capricha nestes detalhes. Dos corredores de moletón, aos judeus ortodoxos e não ortodoxos, aos muçulmanos, aos brasileiros, aos tudo-tudo do mundo inteiro, todos arrumadinhos para fazer a atividade que seja.

Se você quer ser militante vai achar ruim, contra o sistema e coisas assim. Mas até as lindas garotas anti-sistema, estão bem arrumadinhas. Acho que faz parte do cenário. As roupas, quando colocadas de qualquer jeito, ficam desajeitadas nos locais certos. Se você não sabe, uma militante que quer usar uma camiseta, faz por bem deixar um pedacinho do ombro descoberto, a camiseta toda vestida de tal forma que a estampa fica levemente inclinada, e o jeans digamos com furos estratégicamente charmosos. Uma muçulmana ortodoxa pode fazer milagres com seus lenços de seda coloridos. Ainda mais porque em dia de sol em Manhattan todo mundo está sorrindo, e os olhos ficam reluzindo. Até as pessoas mais pobres e carentes, tem um brilho no olhar, em dias de sol. Estão sorrindo. A esmola é mais farta, os restaurantes são mais generosos, e quem sabe, neste dia o cidadão lá de cima resolveu dar um pouco mais de atenção a "capital do mundo".

Eu pensava que Paul Auster tinha uma imaginação fértil, até ir ao Central Park ontem. Os cachorros aqui realmente tem personalidade. São cachorros do Congo, ou cachorros do Upper West Side, cachorros desta ou aquela designação étnica ou religiosa. Mas todos parece que sairam direto de Hollywood.

Para os fetichistas de plantão, Nova Iorque é paraíso. Uma tarde no parque central e você é capaz de satisfazer qualquer fetiche que mantenha algum critério de decência. Mas acho que fetiche é isso mesmo, é sentir tesão mesmo na presença de coisas que superficialmente são decentes. Mas sábado de sol é dia das nova iorquinas de todas formas, sabores, tamanhos, gerações reavaliarem suas escolhas de cores de unha, hímel, não-maquiagem, peitos de dentro ou de fora, e tudo mais. E dia delas escolherem as saias mais lindas, porque eu adoro saias, para mim todas as mulheres poderiam andar sempre de saias e o mundo seria um lugar pacífico. Afinal, quem não vê a elegância, beleza e desenvoltura de uma mulher de saia, especialmente aquelas mais longas que chegam ao joelho no mínimo? Por mim também fariam um bem danado se abolissem as pessoas de andar de chinelo por aí. Sandálias tudo bem. Mas chinelos, especialmente com calças, é um atentado.

Depois de aproveitar o parque central, e sua linda coleção de gente, cachorros e passáros, sentado num banquinho no West Side, olhando para o East Side, chega a hora de se despedir para jantar. Antes, um presente de despedida, é ver o sol se pondo de um lado da cidade. Todos os prédios do West side escurecidos, e o sol suavizando os prédios do East Side. Parece coisa de filme. Um lado da cidade iluminado, e o outro aproveitando os últimos momentos do sol. Coisa mesmo de capital do mundo.

E como no cinema, como se espera de uma capital do mundo, as pessoas em poucos minutos já trocaram de roupa. Mal o sol se põe, todos já estão prontos com suas roupas de noite. Vestidos pretos e longos, fraques, roupas casuais mas cuidadosamente arrumadas, e até os turistas e suas roupas amarrotadas de fim de dia, formam uma harmonia perfeita com o cenário. Logo ali você tem a Metropolitan Ópera house, e águas de cristal que brotam da boca de um anjinho. Ao redor, pessoas da elite do mundo, discutem alegremente a ópera, o governo, a viagem para o Caribe. Os wouldbes e wannabes cercam o local, esperando por aquele momento de entrar no salão de ópera e se sentir um com a elite do mundo.

Deve-se dizer, a elite do mundo corresponde ao que se espera dela.Não se espera só roupas bonitas, jóias, e cabelos bem arrumados. Não, se espera um brilho no olhar, afinal será que é tão ruim assim ser a elite do mundo? Se esperam sorrisos charmosos, discretos, ou até explícitos mas nunca vulgares. Sim, encontrei lindas moçoilas entre a elite do mundo com sorrisos vulgares. Mas são compensadas pelos anjos que habitam esta seção do paraíso. Como só tenho doze dólares, vou sair do circuito da elite mundial, para experimentar uma deliciosa refeição indiana na famigerada Amesterdam com 96th. Bem em frente ao restaurante mexicano, do lado do espanhol, próximo ao restaurante judeu, a uma quadra do árabe, na esquina do tailandês, e pertinho de dois cafés, um deles chamado Europa, e do Starbucks. É ou não a capital do mundo?

Além da comida deliciosa, e das charmosas atendentes, o restaurante indiano tem o melhor feijão indiano do pedaço. E também uma clientela variada. Mas, vou dizer o que você faz depois do restaurante indiano, e de tomar um mango lassy, batida de manga com iogurte e hortelã, geladinhos, e um jantar divino. Você vai caminhar pela Brodway, e decide pegar o metrô para retornar ao lar-bom-lar. Afinal, depois de passar a tarde lendo e observando no Central Park, e caminhar por boa parte da cidade, nada melhor que dormir bem para se dar conta que é possível viver no paraíso.

E no metrô se confirma que estamos no paraíso. É só no paraíso que você pode descer as escadas para o subterrâneo, e ouvir uma Janis Joplin com perfeição e um violão, e na estação seguinte a Messiah de Handel cantada por um coral de jovens hispanos, e na seguinte break dancing, e na seguinte ainda um violinista do Met, e no fim, chegando pertinho de onde você mora, ser recebido por Miles Davis, e sua sketches of spain num sax prateado. Tudo isso, enquanto você flutua dentro das cavernas que ligam os vários cantos do paraíso. Isso é coisa de capital do mundo mesmo. Ainda mais acompanhado de olhares bonitos e saudáveis durante toda sua viagem.

Antes de ir para casa, podemos deixar de ser adultos por mais alguns instantes, e experimentar o maravilhoso Canoli do Kitchenete. Uma loja de doces pertinho de onde você mora. Aqui, como era de se esperar no paraíso, todo lugar que você mora tem uma loja de doces deliciosa bem perto de onde você mora. Todas. E pizza também. E café também. É ou não sonho? Só foi melhor porque a vendedora do Canoli me ensinou que o tal doce é realmente o doce da paixão, e que o pai dela sempre chamava de doce dos anjos. Como ela era um anjo, acho que recebi a benção de experimentar o néctar do paraíso... Depois disso só pude dormir, aos sons das cestas do Shaquille O' Neal, coisa comemorada pelos residentes do paraíso (felizmente, ou infelizmente dependendo da perspectiva).

PS: Como no paraíso não faltam livros, e não há necessidade deles, evitamos o pedacinho da 112 com Broadway, onde se encontra uma das livrarias mais charmosas da cidade... Uma boa livraria tem cheiro de livro, livros de todos os tipos, uma escada caracol, mais de um andar, e várias lindas que entendem de livros procurando as coisas para você. Isso é só no paraíso né...

 

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